segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Prosa Poética



"Se a chuva chovia mansa o dia inteiro, o amor
da mãe se revelava com mais delicadeza. O tempo
definia as receitas. Na beira do fogão ela refogava
o arroz. O cheiro do alho frito acordava o ar e impacientava
o apetite. A couve, ela cortava mais fina que a ponta da agulha
que borda mares em ponto cheio. Depois, mexia o angu para
casar com a carne moída, salpicada de salsinha, conversando
com o caldo do feijão. Tudo denunciava o seu amor. Nós, 
meninos, comíamos devagar, tomando sentido para cada
gosto. Ela desconfiava que matar nossa fome
era como nos pedir para viver. A comida descia
leve como o andar do gato da minha irmã."

(Trecho do livro Vermelho Amargo de Bartolomeu Campos de Queirós. Editora Cosacnaify. p.35) 

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