Sejam misericordiosos, assim como o pai
de vocês é misericordioso.
(Lc 6:36- NVI)
Como fazia todas as manhãs
e, em especial no domingo antes de ir para a Igreja, a irmã Avelina, apesar dos
seus setenta anos, levava um bom café da manhã para os mendigos que
perambulavam pelas imediações de seu lar. Ela amava essa obra e já tinha frutos
de seu trabalho. Um desses frutos era o irmão Alípio, um ex-mendigo que fora
alcançado pelo amor de Deus e pelo gesto misericordioso da irmã Avelina. Ele
mendigava junto com esse grupo em volta da casa da irmã, que de certa forma,
cuidava dele e dos demais quase todos os dias, embora no domingo fosse sempre
especial: o café era mais variado e o bate papo com a “Dona Avelina” era muito
mais interessante, pois era sobre Deus.
Num desses papos, Alípio
sentiu o Senhor o chamando para uma nova vida e assim foi até a Igreja naquele
dia, entregando-se a Jesus. Sua vida mudou radicalmente. Voltou para casa,
arrumou um emprego e, com o tempo, passou a ser obreiro na Casa de Deus,
juntamente com toda a sua família. Ele era uma prova viva de que o trabalho da
irmã Avelina, solitário e sem ibope, havia dado fruto.
Como Alípio, muitos outros
saíram das ruas por causa da obra dessa irmã. Agora, num desafio maior, ela
decidiu fazer parte de um trabalho que já acontecia em sua Igreja, porém ela
nunca podia participar por causa dos cuidados com o seu esposo já muito idoso.
Com o falecimento de seu marido, ela estava livre para se dedicar também a esse
projeto de evangelismo de rua, chamado carinhosamente de “Sopão”. Este serviço
consistia na entrega de alimentos, roupas, cobertores e a Palavra de Deus aos
carentes da rua.
O coração da irmã Avelina
sempre ardia pela prática da misericórdia; era notório que essa idosa irmãzinha
tinha esse dom tão importante para o exercício do ministério cristão: Assim como cada um de nós tem um corpo com
muitos membros e esses membros não exercem todos a mesma função, assim também
em Cristo nós, que somos muitos, formamos um corpo, e cada membro está ligado a
todos os outros. Temos diferentes dons, de acordo com a graça que nos foi dada.
(...) se é dar ânimo, que assim faça; se é contribuir, que contribua
generosamente; se é exercer liderança, que a exerça com zelo; se é mostrar misericórdia, que o faça com
alegria (Rm 12:04-08 – NVI.
Grifo nosso).
Irmã Avelina sabia bem o
que significava a palavra do profeta Oseias: pois misericórdia desejo, e não sacrifícios; conhecimento de Deus em
vez de holocaustos (Os 6:06- NVI). Ela tinha a certeza de que a maneira
mais eficiente de conhecer a Deus era estudar e cumprir a Sua Palavra. E o
texto sagrado deixa claro que é mais importante exercer a misericórdia do que
realizar sacrifícios. Isto é, o verdadeiro sacrifício consiste em não medir
esforços para praticar a bondade em favor dos necessitados, cumprindo a recomendação
Bíblica.
A bondosa serva do Senhor,
além do trabalho de evangelismo, passou a visitar pessoas num Hospital próximo
de sua casa. Ela ia lá quase todos os domingos à tarde para levar o amor de
Deus e o consolo para os enfermos. E, quando podia, visitava algumas irmãs
acamadas levando sempre uma palavra de misericórdia para as suas companheiras
de vida cristã; sempre demorando apenas quinze
minutos, pois dizia que mais que esse tempo era cansativo para os doentes.
Até que um dia, suas forças naturais se esgotaram e irmã Avelina foi para o
Hospital que costumeiramente frequentava para fazer a obra da evangelização.
Lá, já conhecida dos funcionários e pacientes, sentia-se à vontade para pregar
a Palavra de Deus. E, mesmo acamada, exercia a misericórdia para com os doentes
e com os profissionais que passavam perto do seu leito. Ela foi muito visitada,
pois ao longo de sua frutífera vida cristã, plantou muitas sementes de amor e
de compaixão e agora ela estava colhendo os frutos. E você? Está semeando o quê?
O que iremos colher? Bem-aventurados os
misericordiosos, pois obterão misericórdia (Mt. 5: 07 – NVI).
Quanto ao fim de nossa
querida irmã, foi sereno e cheio de misericórdia. O irmão Alípio junto com seus
familiares foi visitá-la muitas vezes. Chorou muito quando a irmã Avelina
partiu, chorou de saudades de sua bondade e de suas conversas sempre
edificantes. Mas agora o que o consolava era saber que um dia se encontraria
com ela num lugar muito melhor, pois a morte para o cristão não se trata
propriamente do fim, mas apenas do início da melhor parte.
Reflexão:
A
misericórdia é inerente à vida cristã. A bondade da irmã Avelina deveria ser a
regra entre os cristãos, todavia infelizmente não é bem isso que constatamos no
dia a dia de muitos que se dizem
seguidores de Jesus. A correria e a competição da vida contemporânea estão
insensibilizando muitos e roubando de nós o olhar para o outro. Os vemos, mas
não os notamos; não os reparamos; não nos envolvemos com a necessidade do
próximo. É simples: porque se envolver dá muito trabalho. Já temos bastantes
coisas a fazermos por nós e para nós, então por que perdermos tempo com os
problemas dos outros? Só que o Mestre nos ensinou: ame o seu próximo como a si mesmo (Mt 22:39b - NVI). Se nós desejamos coisas boas, o próximo também. Se nós queremos
visitas quando estamos passando por enfermidades e problemas de toda sorte, o
próximo também.
Aquilo que o Homem
semear isso também ceifará (Gl 6:07b - RA). Se
semearmos preocupação e envolvimento com os que sofrem, receberemos o elogio de
Deus e ceifaremos cuidados e envolvimentos futuros quando necessitarmos dos
outros. É sempre bom exercer o amor e a misericórdia, pois faz bem e conquista
amigos.
(Gilmar Cabral)
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