segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Misericórdia





 Sejam misericordiosos, assim como o pai de vocês é misericordioso.
(Lc 6:36- NVI)
 
Como fazia todas as manhãs e, em especial no domingo antes de ir para a Igreja, a irmã Avelina, apesar dos seus setenta anos, levava um bom café da manhã para os mendigos que perambulavam pelas imediações de seu lar. Ela amava essa obra e já tinha frutos de seu trabalho. Um desses frutos era o irmão Alípio, um ex-mendigo que fora alcançado pelo amor de Deus e pelo gesto misericordioso da irmã Avelina. Ele mendigava junto com esse grupo em volta da casa da irmã, que de certa forma, cuidava dele e dos demais quase todos os dias, embora no domingo fosse sempre especial: o café era mais variado e o bate papo com a “Dona Avelina” era muito mais interessante, pois era sobre Deus.
Num desses papos, Alípio sentiu o Senhor o chamando para uma nova vida e assim foi até a Igreja naquele dia, entregando-se a Jesus. Sua vida mudou radicalmente. Voltou para casa, arrumou um emprego e, com o tempo, passou a ser obreiro na Casa de Deus, juntamente com toda a sua família. Ele era uma prova viva de que o trabalho da irmã Avelina, solitário e sem ibope, havia dado fruto.
Como Alípio, muitos outros saíram das ruas por causa da obra dessa irmã. Agora, num desafio maior, ela decidiu fazer parte de um trabalho que já acontecia em sua Igreja, porém ela nunca podia participar por causa dos cuidados com o seu esposo já muito idoso. Com o falecimento de seu marido, ela estava livre para se dedicar também a esse projeto de evangelismo de rua, chamado carinhosamente de “Sopão”. Este serviço consistia na entrega de alimentos, roupas, cobertores e a Palavra de Deus aos carentes da rua.    
O coração da irmã Avelina sempre ardia pela prática da misericórdia; era notório que essa idosa irmãzinha tinha esse dom tão importante para o exercício do ministério cristão: Assim como cada um de nós tem um corpo com muitos membros e esses membros não exercem todos a mesma função, assim também em Cristo nós, que somos muitos, formamos um corpo, e cada membro está ligado a todos os outros. Temos diferentes dons, de acordo com a graça que nos foi dada. (...) se é dar ânimo, que assim faça; se é contribuir, que contribua generosamente; se é exercer liderança, que a exerça com zelo; se é mostrar misericórdia, que o faça com alegria (Rm 12:04-08 – NVI. Grifo nosso).
Irmã Avelina sabia bem o que significava a palavra do profeta Oseias: pois misericórdia desejo, e não sacrifícios; conhecimento de Deus em vez de holocaustos (Os 6:06- NVI). Ela tinha a certeza de que a maneira mais eficiente de conhecer a Deus era estudar e cumprir a Sua Palavra. E o texto sagrado deixa claro que é mais importante exercer a misericórdia do que realizar sacrifícios. Isto é, o verdadeiro sacrifício consiste em não medir esforços para praticar a bondade em favor dos necessitados, cumprindo a recomendação Bíblica.
A bondosa serva do Senhor, além do trabalho de evangelismo, passou a visitar pessoas num Hospital próximo de sua casa. Ela ia lá quase todos os domingos à tarde para levar o amor de Deus e o consolo para os enfermos. E, quando podia, visitava algumas irmãs acamadas levando sempre uma palavra de misericórdia para as suas companheiras de vida cristã; sempre demorando apenas quinze minutos, pois dizia que mais que esse tempo era cansativo para os doentes. Até que um dia, suas forças naturais se esgotaram e irmã Avelina foi para o Hospital que costumeiramente frequentava para fazer a obra da evangelização. Lá, já conhecida dos funcionários e pacientes, sentia-se à vontade para pregar a Palavra de Deus. E, mesmo acamada, exercia a misericórdia para com os doentes e com os profissionais que passavam perto do seu leito. Ela foi muito visitada, pois ao longo de sua frutífera vida cristã, plantou muitas sementes de amor e de compaixão e agora ela estava colhendo os frutos. E você? Está semeando o quê? O que iremos colher? Bem-aventurados os misericordiosos, pois obterão misericórdia (Mt. 5: 07 – NVI). 
Quanto ao fim de nossa querida irmã, foi sereno e cheio de misericórdia. O irmão Alípio junto com seus familiares foi visitá-la muitas vezes. Chorou muito quando a irmã Avelina partiu, chorou de saudades de sua bondade e de suas conversas sempre edificantes. Mas agora o que o consolava era saber que um dia se encontraria com ela num lugar muito melhor, pois a morte para o cristão não se trata propriamente do fim, mas apenas do início da melhor parte.


Reflexão:
A misericórdia é inerente à vida cristã. A bondade da irmã Avelina deveria ser a regra entre os cristãos, todavia infelizmente não é bem isso que constatamos no dia a dia de    muitos que se dizem seguidores de Jesus. A correria e a competição da vida contemporânea estão insensibilizando muitos e roubando de nós o olhar para o outro. Os vemos, mas não os notamos; não os reparamos; não nos envolvemos com a necessidade do próximo. É simples: porque se envolver dá muito trabalho. Já temos bastantes coisas a fazermos por nós e para nós, então por que perdermos tempo com os problemas dos outros? Só que o Mestre nos ensinou: ame o seu próximo como a si mesmo (Mt 22:39b - NVI). Se nós desejamos coisas boas, o próximo também. Se nós queremos visitas quando estamos passando por enfermidades e problemas de toda sorte, o próximo também.
Aquilo que o Homem semear isso também ceifará (Gl 6:07b - RA). Se semearmos preocupação e envolvimento com os que sofrem, receberemos o elogio de Deus e ceifaremos cuidados e envolvimentos futuros quando necessitarmos dos outros. É sempre bom exercer o amor e a misericórdia, pois faz bem e conquista amigos. 

(Gilmar Cabral)

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