segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Os Milagres




Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia a obra das suas mãos.

        (Sl 19:01 – RA).
  
            Cássia mais uma vez abriu a janela do seu quarto e deixou a luz e o calor do sol penetrarem trazendo conforto e alegria àquela manhã. Era o seu ritual de todos os dias, mas dessa vez parecia diferente: uma enorme sensação de prazer e de paz na alma tomou conta de seu ser naquele momento de pura beleza matinal.

            Ao olhar para fora, percebeu o céu totalmente azul claro, sem nenhuma nuvem, e o sol tão amarelo que chegava a ficar cor de abóbora. O verde das plantas, das gramas e das árvores, presentes no quintal da casa, dava um colorido bem brasileiro àquela paisagem, que se completava com a beleza das flores enfeitando um pequeno jardim povoado por bichinhos da natureza e passarinhos em busca de comida, de água e de repouso.

            Ainda sentindo a brisa fresca da manhã, a garota, de doze anos, trocou de roupa rapidamente e desceu as escadas, passando pela sala até chegar ao banheiro da casa. Fez sua higiene e seguiu em direção à cozinha para o café. Deu bom dia aos pais, pediu a bênção a eles e sentou-se para a primeira refeição do dia.

            Tomou o seu leite e pegou alguns biscoitos. A mãe, prestativa e completamente envolvida com as tarefas da casa, não se sentava, mesmo estando num feriado. O pai, concentrado na leitura do jornal do dia, quase não notava a presença de Cássia. Esta, incomodada com a certa indiferença dos pais, resolveu “quebrar o gelo”:

            _Mãe! Pai!

            _Sim filha. – respondeu a mãe. 
            O pai apenas resmungou:

            _Oi..

_Acabei de ver um milagre! - disse com entusiasmo Cássia.

_O quê!? – a mãe e o pai juntos.

_Isso! Um milagre.

_Como filha? – a mãe perguntou virando-se para a menina e ficando de costas para a pia, ainda em pé.

_É... o que você está falando? – mais racional, indagou o pai, na mesma posição, sentado à mesa.

_Vi um milagre quando abri, hoje, a janela do meu quarto.

_Viu um boi voando, filha? – falou com humor irônico o pai.

_Para com isso, bem! – reclamou a esposa – fala filha: que tipo de milagre? O que você viu?

_Eu vi o céu azul, o verde das plantas, o colorido das flores; ouvi o canto dos passarinhos e o ventinho da manhã bem suave no meu rosto.

_Nossa! Você viu, ouviu e sentiu então mais de um milagre! Não? – perguntou a mãe admirada.

_Cássia, isto provavelmente você tem visto todos os dias nessas últimas manhãs de primavera; esta paisagem é muito comum nesta época do ano. – ponderou o pai novamente sendo racional.

_Eu sei papai. Porém, hoje foi diferente: eu valorizei o que vi, ouvi e senti. Eu chamo de milagre e não de milagres, mamãe, porque eu vejo tudo isso como sendo um presente só: a beleza da criação de Deus. Entenderam? Todos os dias, nessas últimas semanas, as manhãs surgiram assim, desse jeito. Mas hoje eu parei na minha janela para apreciar a obra-prima do criador. Isto me fez um bem tão grande! Ali mesmo, em pensamento, agradeci a Deus pelo seu presente que se renova todos os dias. Porém, também pedi a Ele perdão por presenciar quase a mesma paisagem diariamente e não reparar e nem agradecer pela bela imagem diante dos meus olhos. Sem contar que, por causa do cansaço e do sono, sempre deixo de valorizar outro milagre em forma de presente, que é a noite.

Os pais ficaram quietos e boquiabertos com as palavras da filha. Perceberam que, apesar de ser um feriado, não tiveram tempo de olharem o céu ou de desfrutarem do dia lindo que amanhecera; que dirá agradecer por essas dádivas.

A menina terminou o café e foi para o quintal continuar a “curtir” o presente que recebera: mais uma manhã por parte do Criador.

Os pais se entreolharam envergonhados pela lição de vida que receberam da filha e, quase que ao mesmo tempo, tomaram a decisão de estenderem a conversa. A mãe fechou a torneira e deixou as louças na pia; o pai levantou-se, deixando o jornal aberto sobre a mesa e a xícara de café vazia. Ambos dirigiram-se até o quintal. Lá estava Cássia próxima ao jardim admirando o dia e acariciando uma pequena flor. Chegaram perto da filha e disseram quase de forma ensaiada:

_Filha!

_Oi! Vieram ver o milagre também!?

_Sim, nós viemos. – disse a mãe. 
O pai completou:

_Viemos ver juntos com você.

_Que bom! Cada dia, cada noite é um milagre, mesmo quando o tempo está fechado e chuvoso. Sabem: a cada dia e a cada noite Deus está falando alguma coisa para nós. Ontem, antes de dormir, eu li na Bíblia: um dia discursa a outro dia, e uma noite revela conhecimento a outra noite (Sl 19:02 – RA). E eu presenciei isto esta manhã. Nunca mais vou olhar o dia ou a noite da mesma forma que lidava com eles, ou seja, com indiferença. Agora sei que eles têm algo a me ensinar; é só parar para ver e ouvir. Ontem, como estava muito cansada, terminei de ler e fui logo dormir, mas hoje de manhã não perdi a oportunidade de admirar o dia, e hoje à noite me lembrarei de aprender com o anoitecer.

_Como podemos fazer isto todos os dias, filha? Isto é, aprender com o dia e com a noite? – com tom de ternura indagou a mãe.

_Sim – completou o pai –, se nós somos tão atarefados nos dias comuns da semana?

_Não precisa de muito tempo meus pais. Bastam quinze minutos apenas. Foi mais ou menos esse o tempo que investi ontem à noite ao ler a Bíblia e hoje de manhã ao ficar maravilhada com a natureza. Parem todos os dias pelo menos esse tempo tanto de manhã quanto de noite e vocês verão muitos milagres ocorrerem através dos muitos anos de vida. Como eu li outro dia num poema:

É tudo que precisamos:

De vez em quando

Parar.

(Infinitas Palavras)


Somente um pouquinho para reconhecer o milagre do dia e da noite. Façam isto! Sugestão: antes de dormirem, olhem o céu e não se esqueçam de ler as Escrituras. E logo que acordarem, olhem o céu. Afinal, ainda ontem li o Salmo 118:24: Este é o dia que o Senhor fez; regozijemo-nos nele (RA).    


Ambos se abraçaram e decidiram que, daquela manhã em diante, reconheceriam tanto o milagre do dia quanto o milagre da noite, recebendo-os como verdadeiras dádivas do Criador. Além disso, reconheceram que o milagre de estarem vivos para presenciarem os dias e as noites já seria motivo suficiente para pararem e agradecerem.



 Reflexão:

Todos os dias nós recebemos milagres por parte do Criador. O problema é que não percebemos isto. “Passamos batidos” tanto pelo dia como pela noite, embora de noite tenhamos o álibi do sono. Estamos atarefados demais para “perdermos tempo com isso”. De dia a desculpa é o trabalho. Cássia nos ensina assim como ensinou aos pais que somente precisamos de quinze minutos por dia para agradecer o presente da vida e o presente da natureza.

A verdade é que, mesmo que sejamos absolutamente contrários à ingratidão, a praticamos todos os dias ao não pararmos para agradecer a Deus. Pare um pouquinho. Não deixe que o estresse da vida contemporânea roube de você momentos de puro prazer estético e sentimental ao levá-lo a não admirar a beleza da vida, da criação. Desfrute de momentos alegres mesmo no calor da tensão do dia de trabalho e de compromissos. Reconheça que cada novo dia para ser vivido é um milagre que Deus está oferecendo a você, mesmo que seja um dia daqueles!  Afinal, estar vivo não é para qualquer um, mas somente para aquele que Deus desejou conceder mais esse presente. Saiba viver vivendo intensamente o hoje, pois não sabemos se teremos o amanhã. O passado ninguém poderá nos roubar. O presente é um presente a ser desfrutado e o amanhã será uma bem-vinda nova oportunidade de viver.

 (Gilmar Cabral)




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