Os céus proclamam a glória de Deus, e o
firmamento anuncia a obra das suas mãos.
(Sl
19:01 – RA).
Cássia
mais uma vez abriu a janela do seu quarto e deixou a luz e o calor do sol
penetrarem trazendo conforto e alegria àquela manhã. Era o seu ritual de todos
os dias, mas dessa vez parecia diferente: uma enorme sensação de prazer e de
paz na alma tomou conta de seu ser naquele momento de pura beleza matinal.
Ao
olhar para fora, percebeu o céu totalmente azul claro, sem nenhuma nuvem, e o
sol tão amarelo que chegava a ficar cor de abóbora. O verde das plantas, das
gramas e das árvores, presentes no quintal da casa, dava um colorido bem
brasileiro àquela paisagem, que se completava com a beleza das flores
enfeitando um pequeno jardim povoado por bichinhos da natureza e passarinhos em
busca de comida, de água e de repouso.
Ainda
sentindo a brisa fresca da manhã, a garota, de doze anos, trocou de roupa rapidamente
e desceu as escadas, passando pela sala até chegar ao banheiro da casa. Fez sua
higiene e seguiu em direção à cozinha para o café. Deu bom dia aos pais, pediu
a bênção a eles e sentou-se para a primeira refeição do dia.
Tomou
o seu leite e pegou alguns biscoitos. A mãe, prestativa e completamente
envolvida com as tarefas da casa, não se sentava, mesmo estando num feriado. O
pai, concentrado na leitura do jornal do dia, quase não notava a presença de
Cássia. Esta, incomodada com a certa indiferença dos pais, resolveu “quebrar o
gelo”:
_Mãe!
Pai!
_Sim
filha. – respondeu a mãe.
O pai apenas resmungou:
_Oi..
_Acabei de ver um milagre! - disse com entusiasmo Cássia.
_O quê!? – a mãe e o pai
juntos.
_Isso! Um milagre.
_Como filha? – a mãe
perguntou virando-se para a menina e ficando de costas para a pia, ainda em pé.
_É... o que você está
falando? – mais racional, indagou o pai, na mesma posição, sentado à mesa.
_Vi um milagre quando
abri, hoje, a janela do meu quarto.
_Viu um boi voando, filha?
– falou com humor irônico o pai.
_Para com isso, bem! –
reclamou a esposa – fala filha: que tipo de milagre? O que você viu?
_Eu vi o céu azul, o verde
das plantas, o colorido das flores; ouvi o canto dos passarinhos e o ventinho
da manhã bem suave no meu rosto.
_Nossa! Você viu, ouviu e
sentiu então mais de um milagre! Não? – perguntou a mãe admirada.
_Cássia, isto
provavelmente você tem visto todos os dias nessas últimas manhãs de primavera;
esta paisagem é muito comum nesta época do ano. – ponderou o pai novamente
sendo racional.
_Eu sei papai. Porém, hoje
foi diferente: eu valorizei o que vi, ouvi e senti. Eu chamo de milagre e não
de milagres, mamãe, porque eu vejo tudo isso como sendo um presente só: a
beleza da criação de Deus. Entenderam? Todos os dias, nessas últimas semanas,
as manhãs surgiram assim, desse jeito. Mas hoje eu parei na minha janela para
apreciar a obra-prima do criador. Isto me fez um bem tão grande! Ali mesmo, em
pensamento, agradeci a Deus pelo seu presente que se renova todos os dias.
Porém, também pedi a Ele perdão por presenciar quase a mesma paisagem
diariamente e não reparar e nem agradecer pela bela imagem diante dos meus
olhos. Sem contar que, por causa do cansaço e do sono, sempre deixo de
valorizar outro milagre em forma de presente, que é a noite.
Os pais ficaram quietos e
boquiabertos com as palavras da filha. Perceberam que, apesar de ser um
feriado, não tiveram tempo de olharem o céu ou de desfrutarem do dia lindo que
amanhecera; que dirá agradecer por essas dádivas.
A menina terminou o café e
foi para o quintal continuar a “curtir” o presente que recebera: mais uma manhã
por parte do Criador.
Os pais se entreolharam
envergonhados pela lição de vida que receberam da filha e, quase que ao mesmo
tempo, tomaram a decisão de estenderem a conversa. A mãe fechou a torneira e
deixou as louças na pia; o pai levantou-se, deixando o jornal aberto sobre a
mesa e a xícara de café vazia. Ambos dirigiram-se até o quintal. Lá estava
Cássia próxima ao jardim admirando o dia e acariciando uma pequena flor. Chegaram
perto da filha e disseram quase de forma ensaiada:
_Filha!
_Oi! Vieram ver o milagre
também!?
_Sim, nós viemos. – disse
a mãe.
O pai completou:
_Viemos ver juntos com
você.
_Que bom! Cada dia, cada
noite é um milagre, mesmo quando o tempo está fechado e chuvoso. Sabem: a cada
dia e a cada noite Deus está falando alguma coisa para nós. Ontem, antes de
dormir, eu li na Bíblia: um dia discursa
a outro dia, e uma noite revela conhecimento a outra noite (Sl 19:02 – RA).
E eu presenciei isto esta manhã. Nunca mais vou olhar o dia ou a noite da mesma
forma que lidava com eles, ou seja, com indiferença. Agora sei que eles têm
algo a me ensinar; é só parar para ver e ouvir. Ontem, como estava muito
cansada, terminei de ler e fui logo dormir, mas hoje de manhã não perdi a
oportunidade de admirar o dia, e hoje à noite me lembrarei de aprender com o
anoitecer.
_Como podemos fazer isto
todos os dias, filha? Isto é, aprender com o dia e com a noite? – com tom de
ternura indagou a mãe.
_Sim – completou o pai –,
se nós somos tão atarefados nos dias comuns da semana?
_Não precisa de muito
tempo meus pais. Bastam quinze minutos
apenas. Foi mais ou menos esse o tempo que investi ontem à noite ao ler a
Bíblia e hoje de manhã ao ficar maravilhada com a natureza. Parem todos os dias
pelo menos esse tempo tanto de manhã quanto de noite e vocês verão muitos
milagres ocorrerem através dos muitos anos de vida. Como eu li outro dia num
poema:
É
tudo que precisamos:
De
vez em quando
Parar.
(Infinitas
Palavras)
Somente um pouquinho para
reconhecer o milagre do dia e da noite. Façam isto! Sugestão: antes de
dormirem, olhem o céu e não se esqueçam de ler as Escrituras. E logo que
acordarem, olhem o céu. Afinal, ainda ontem li o Salmo 118:24: Este é o dia que o Senhor fez;
regozijemo-nos nele (RA).
Ambos se abraçaram e
decidiram que, daquela manhã em diante, reconheceriam tanto o milagre do dia
quanto o milagre da noite, recebendo-os como verdadeiras dádivas do Criador.
Além disso, reconheceram que o milagre de estarem vivos para presenciarem os
dias e as noites já seria motivo suficiente para pararem e agradecerem.
Reflexão:
Todos
os dias nós recebemos milagres por parte do Criador. O problema é que não
percebemos isto. “Passamos batidos” tanto pelo dia como pela noite, embora de
noite tenhamos o álibi do sono. Estamos atarefados demais para “perdermos tempo
com isso”. De dia a desculpa é o trabalho. Cássia nos ensina assim como ensinou
aos pais que somente precisamos de quinze minutos por dia para agradecer o
presente da vida e o presente da natureza.
A
verdade é que, mesmo que sejamos absolutamente contrários à ingratidão, a
praticamos todos os dias ao não pararmos para agradecer a Deus. Pare um
pouquinho. Não deixe que o estresse da vida contemporânea roube de você
momentos de puro prazer estético e sentimental ao levá-lo a não admirar a
beleza da vida, da criação. Desfrute de momentos alegres mesmo no calor da tensão
do dia de trabalho e de compromissos. Reconheça que cada novo dia para ser
vivido é um milagre que Deus está oferecendo a você, mesmo que seja um dia
daqueles! Afinal, estar vivo não é para
qualquer um, mas somente para aquele que Deus desejou conceder mais esse
presente. Saiba viver vivendo intensamente o hoje, pois não sabemos se teremos
o amanhã. O passado ninguém poderá nos roubar. O presente é um presente a ser
desfrutado e o amanhã será uma bem-vinda nova oportunidade de viver.
(Gilmar Cabral)
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