Todo mundo passou
E ninguém notou
Aquela flor que
arrebentou
O solo e brotou à beira
da estrada.
Passamos, às vezes, a
vida inteira
Assim: olhando tudo e,
ao mesmo tempo,
Não enxergando nada.
Somos “tomados” pelas
pressões das lutas
Que nem percebemos a
beleza,
Em meio à imagem bruta,
Ali, solitariamente
perdida
E abandonada.
É como se as rachaduras
do solo
Revelassem os rasgos
profundos
De nossa existência.
Uma espécie de erosão
da alma,
Uma falta de alegria,
de esperança e de calma
No chão pedregoso da
resistência.
É a dura realidade do
estio, seco e frio
No rochoso, árido
cansaço da frustração.
Mas como a pequenina e
brava flor insiste
Em viver, saindo lá do
fundo
E aparecendo pro mundo,
Num cenário de
sequidão,
Também a alma
ressequida
Recebe as inesperadas
chegadas
Da sensibilidade e da
delicadeza,
Bem-vindas e vindas do
subsolo
Da vida para resgatar a
beleza
E encher de ânimo
As fontes rotas do
coração.
(Gilmar Cabral)
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