segunda-feira, 19 de agosto de 2013
Soneto de Camões
Amor é um fogo qu'arde sem se ver,
É ferida que dói e não se sente,
É um contentamento descontente,
É dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer,
É um andar solitário entre a gente,
É nunca contentar-se de contente,
É um cuidar que ganha sem se perder.
É querer estar preso por vontade,
É servir, a quem vence, o vencedor,
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo amor?
(Cinco séculos de sonetos portugueses: de Camões a Fernando Pessoa / organização, apresentação e ensaios Cleonice Berardinelli, - 1 ed. - Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2013. p. 33.)
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