segunda-feira, 2 de junho de 2014
Trecho Poético
Antes, minha mãe, com muito afago, fatiava o tomate em cruz,
adivinhando os gomos que os olhos não desvendavam, mas a
imaginação alcançava. Isso, depois de banhá-los em água pura
e enxugá-los em pano de prato alvejado, puxando seu brilho
para o lado do sol. Cortados em cruzes eles se transfiguravam
em pequenas embarcações ancoradas na baía da travessa.
E barqueiros eram as sementes, vestidas em resina de limo e
brilho. Pousado sobre a língua, o pequeno barco suscitava um
gosto de palavra por dizer-se. há, sim, outras palavras mais
doces que o açúcar.
(Bartolomeu Campos de Queirós. Vermelho amargo. Cosacnaify. p. 14 e 15.)
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