Quando te vimos enfermo ou preso e fomos te visitar? O Rei responderá: “digo-lhes a verdade: o que vocês fizeram a algum dos meu menores irmãos, a mim o fizeram”.
(Mt 25: 39-40 - NVI)
A cela continuava úmida,
quente, suja e escura. Havia dez homens amontoados num espaço que somente
caberiam três. Era difícil até respirar ali. Por mais que limpassem, Jamil
tinha por companhia, além dos demais detentos, a presença de baratas, ratos,
moscas e percevejos. Às vezes, parecia que a cela transformava-se num autêntico
inferno de tanto calor. Cama e lençol? Colchonete rasgado e farrapos isso sim!
E olha que era uma cadeia de Delegacia, imagine a de um presídio!? E a comida?
Horrorosa! Mas, fazer o quê? Jamil tinha que se alimentar. Banheiro? Um buraco
no chão e pior, tinha que fazer suas necessidades biológicas na frente de todo
mundo; muita humilhação! Já fazia um mês que estava lá: sofrendo. Tudo porque,
no desespero da fome, roubou alguns laticínios em um Mercado perto de casa. O
Dono percebeu e chamou a polícia que fazia a ronda exatamente naquela hora.
Mesmo Jamil explicando que estava desesperado com a fome que dominava ele, a
mulher e as crianças, aquele comerciante não se amoleceu e disse para os
policiais em tom agressivo:
_Levem esse vagabundo! Tá
com fome vai trabalhar: catar papel, latinha na rua! Malandro!
A polícia levou Jamil para
a Delegacia debaixo de tapas e pontapés. Daí por diante ficou preso. Sem
advogado, sem a família saber seu paradeiro, sem ajuda, ficou por lá mesmo;
jogado como um trapo humano ao lado de perigosos malfeitores. Sem notícias de
sua família, temia que eles houvessem morrido de fome. De noite, batia um
desespero aterrador. Até que numa certa madrugada, o desespero foi tão grande
que Jamil tentou se matar. Conseguiu uma gilete com um dos novos detentos e,
quando percebeu que os demais da cela estavam dormindo, rasgou os seus dois
pulsos e deitou-se para esperar a morte. Já estava uma sangueira no chão quando
um dos companheiros de infortúnio de Jamil acordou molhado pelo líquido
vermelho e danou a gritar pedindo socorro. O carcereiro de plantão abriu a cela
rapidamente com a ajuda de mais dois policiais e retiraram às pressas o Jamil
desacordado e quase sem pulso. Como o Hospital Municipal ficava perto dali,
Jamil foi prontamente socorrido. Sobreviveu. Após alguns dias de recuperação no
Hospital, voltou para sua cela. De alguma forma sentia que havia recebido outra
chance de viver e queria agora aproveitá-la. Assim, numa noite, sem muita fé,
Jamil orou e pediu a Deus que o ajudasse a sair daquela condição. Prometeu que,
se isso acontecesse, ele procuraria uma igreja e iria mudar de vida; tentar
realmente arrumar um emprego, deixar a malandragem.
Parece que Deus ouviu a
sua prece, porque uma semana depois da oração, um jovem missionário, destes que
fazem corajosamente trabalhos evangelísticos em presídios, delegacias e casas
de detenção, apareceu por lá querendo falar do amor de Jesus para os presos. O
delegado deixou que ele usasse apenas quinze
minutos para pregar aos detentos. Ele então se dirigiu à cela onde estava
Jamil e mais os outros nove. Aproximou-se das grades e leu João 3:16: Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu
filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida
eterna (NVI). Começou a pregar sobre a salvação em Cristo Jesus. Os outros
nove reclamavam e xingavam, todavia, Jamil, no auge da desesperança, agarrou-se
àquelas palavras e deu total atenção ao jovem missionário. Os outros desistiram
de murmurar e foram para o canto esquerdo da cela jogar carteado, enquanto que
Jamil começava a ser trabalhado pela Palavra Sagrada. O jovem orou no final e
Jamil pediu que ele voltasse, pois queria saber mais sobre Jesus.
Assim, o missionário
conseguiu a permissão para evangelizar o detento toda a semana por quinze
minutos. Jamil contou a sua história e ambos ficaram grandes amigos. No mês que
se seguiu, aquele jovem se empenhou em tirá-lo dali. Entrou em contato com um
advogado e procurou os familiares do detento. Trouxe notícias boas sobre a
família dele já que ela estava sendo amparada por uma obra social de umas das
igrejas de perto da sua casa. Também levou notícias de Jamil para os seus,
tranquilizando-os sobre seu estado e situação junto à Justiça. O advogado
conseguiu a libertação de Jamil. Mas a liberdade mais importante foi a que
ocorreu na alma do ex-encarcerado. O rapaz evangelista tornou-se seu “pai na
fé” e o ajudou também a restaurar a sua situação financeira, arrumando um
emprego para ele. Porém, Jamil ainda não
havia tomado “aquela” decisão definitiva sobre sua salvação. Tinha muitas
dúvidas na mente. O amigo cristão foi até sua casa numa noite e falou novamente
de Jesus para ele e para a sua família. Nesse encontro o missionário enfatizou:
_ Jamil, todos erramos.
Não se julgue pecador demais para ser salvo. A Bíblia diz: pois todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus (Rm 3:23 –
NVI). Mas também diz: Portanto, agora já
não há condenação para os que estão em Cristo Jesus.. (Rm 8:01 – NVI).
_ Então, missionário, o
que eu preciso fazer? O que é estar em Cristo Jesus?
_Simples, ouça essa
história. O evangelista contou a narrativa da conversão do carcereiro de
Filipos, que está registrada no livro de Atos capítulo 16. E destacou:
_Escutem a fala do
carcereiro quando viu que Paulo e Silas não haviam fugido da prisão, quando um
grande terremoto assolou aquele lugar; ouçam o que as Escrituras dizem: o carcereiro pediu luz, entrou correndo e,
trêmulo, prostrou-se diante de Paulo e Silas.
Então levou-os para fora e perguntou: “Senhores, que devo fazer para ser
salvo?” Eles responderam: “Creia no Senhor Jesus, e serão salvos, você e os de
sua casa.” (At 16:29-31 – NVI). É
isso, Jamil! Você e a sua família precisam receber Jesus como Senhor e Salvador
de suas vidas.
_ E como fazemos isso?
_ Orando com fé e se
entregando a Ele. Vocês querem fazer essa oração? É simples!
Jamil e a família
disseram:
_ Sim! Se for simples
assim, queremos receber Jesus em nosso coração.
_Repitam após mim essas
palavras: “Senhor Jesus, eu O recebo em meu coração como Senhor e Salvador de
minha vida. Reconheço que sou pecador e que somente o Senhor pode perdoar os
meus pecados e me garantir um lugar no Céu. Portanto, confio somente em ti para
a vida eterna. Muda meu coração, pois quero te servir para sempre. Amém!”
Firmes?!
_ Sim, firmes! Eles
responderam com um enorme sorriso nos lábios.
Dali para a Igreja foi
rapidinho. Jamil tornou-se parceiro missionário de seu amigo e irmão
evangelista, e agora ambos passaram a visitar os presídios, as casas de
detenção e as cadeias, juntos, pregando o amor de Deus. Eles testemunharam com
suas vidas o verdadeiro valor do evangelismo. Jamil voltou várias vezes àquela
delegacia e à cela onde quase perdeu a vida. Entretanto, agora para ajudar os
outros. Lá, encontrou Reginaldo, um rapaz completamente envolvido pelas drogas.
Em pouco tempo estavam amigos, e tudo começou porque Jamil pediu quinze minutos de conversa com ele,
sendo autorizado pelo delegado que agora dirigia aquela delegacia. Jamil ia uma
vez por semana visitá-lo e o acompanhou quando o rapaz saiu da cadeia. Jamil
arrumou para ele, junto à sua igreja, uma casa de recuperação e sempre ia com o
seu irmão missionário fazer uma visita ao rapaz. E agora eles tinham bem mais
do que quinze minutos para falarem de vida, de cura, de libertação e do grande
amor de Cristo.
Reflexão:
Sabemos que nas cadeias e presídios
do nosso país existem muitas vidas que estão lá e já não eram mais para estar:
ou porque já cumpriram a pena ou porque são inocentes e nunca conseguiram
provar isto. O fato é que, de alguma forma, foram esquecidos pela Justiça. É
certo que muitas decisões da Suprema Corte do País, o Supremo Tribunal Federal,
têm nos trazido esperança de que a corrupção e a injustiça estão sendo
combatidas decisivamente. Mas a verdade é que a justiça humana, justamente por
ser conduzida por seres humanos, é falha. A verdadeira Justiça é a que vem do
Alto. E é essa que precisa ser pregada e anunciada.
Se Jamil não recebesse a visita
daquele missionário, quem garante que ele não tentaria de novo o suicídio? Os
quinze minutos gastos, ou melhor, investidos na vida de Jamil por aquele jovem
missionário, foram fundamentais para a mudança de vida que ocorreu naquele
detento. Quinze minutos podem parecer pouco tempo, mas podem fazer toda a
diferença para quem não tem direção para a sua vida, para quem está abandonado,
rejeitado pela sociedade ou em desespero. Quanto tempo você e eu temos
investido na vida de quem sofre ou de quem está abandonado pelos homens, mas
nunca abandonado por Deus? Há tempo para
todo propósito debaixo do céu, inclusive para dedicar algum tempo ao
próximo. Jesus disse que faríamos bem a Ele se fizéssemos a um desses seus pequeninos. Então, mexa-se! Jamil recebeu a
Palavra de um missionário e depois a levou, como um missionário, ao jovem
Reginaldo. Porque o que de graças
recebestes de graça dai (Mt
10: 08b – RA). Deus espera que continuemos essa multiplicação. Vamos lá?!
(Gilmar Cabral)
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