quarta-feira, 4 de junho de 2014

Quinze Minutos




Quando te vimos enfermo ou preso e fomos te visitar? O Rei responderá: “digo-lhes a verdade: o que vocês fizeram  a algum dos meu menores irmãos, a mim o fizeram”.



                                                              (Mt 25: 39-40 - NVI)  



 A cela continuava úmida, quente, suja e escura. Havia dez homens amontoados num espaço que somente caberiam três. Era difícil até respirar ali. Por mais que limpassem, Jamil tinha por companhia, além dos demais detentos, a presença de baratas, ratos, moscas e percevejos. Às vezes, parecia que a cela transformava-se num autêntico inferno de tanto calor. Cama e lençol? Colchonete rasgado e farrapos isso sim! E olha que era uma cadeia de Delegacia, imagine a de um presídio!? E a comida? Horrorosa! Mas, fazer o quê? Jamil tinha que se alimentar. Banheiro? Um buraco no chão e pior, tinha que fazer suas necessidades biológicas na frente de todo mundo; muita humilhação! Já fazia um mês que estava lá: sofrendo. Tudo porque, no desespero da fome, roubou alguns laticínios em um Mercado perto de casa. O Dono percebeu e chamou a polícia que fazia a ronda exatamente naquela hora. Mesmo Jamil explicando que estava desesperado com a fome que dominava ele, a mulher e as crianças, aquele comerciante não se amoleceu e disse para os policiais em tom agressivo:

_Levem esse vagabundo! Tá com fome vai trabalhar: catar papel, latinha na rua! Malandro!

A polícia levou Jamil para a Delegacia debaixo de tapas e pontapés. Daí por diante ficou preso. Sem advogado, sem a família saber seu paradeiro, sem ajuda, ficou por lá mesmo; jogado como um trapo humano ao lado de perigosos malfeitores. Sem notícias de sua família, temia que eles houvessem morrido de fome. De noite, batia um desespero aterrador. Até que numa certa madrugada, o desespero foi tão grande que Jamil tentou se matar. Conseguiu uma gilete com um dos novos detentos e, quando percebeu que os demais da cela estavam dormindo, rasgou os seus dois pulsos e deitou-se para esperar a morte. Já estava uma sangueira no chão quando um dos companheiros de infortúnio de Jamil acordou molhado pelo líquido vermelho e danou a gritar pedindo socorro. O carcereiro de plantão abriu a cela rapidamente com a ajuda de mais dois policiais e retiraram às pressas o Jamil desacordado e quase sem pulso. Como o Hospital Municipal ficava perto dali, Jamil foi prontamente socorrido. Sobreviveu. Após alguns dias de recuperação no Hospital, voltou para sua cela. De alguma forma sentia que havia recebido outra chance de viver e queria agora aproveitá-la. Assim, numa noite, sem muita fé, Jamil orou e pediu a Deus que o ajudasse a sair daquela condição. Prometeu que, se isso acontecesse, ele procuraria uma igreja e iria mudar de vida; tentar realmente arrumar um emprego, deixar a malandragem. 

Parece que Deus ouviu a sua prece, porque uma semana depois da oração, um jovem missionário, destes que fazem corajosamente trabalhos evangelísticos em presídios, delegacias e casas de detenção, apareceu por lá querendo falar do amor de Jesus para os presos. O delegado deixou que ele usasse apenas quinze minutos para pregar aos detentos. Ele então se dirigiu à cela onde estava Jamil e mais os outros nove. Aproximou-se das grades e leu João 3:16: Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna (NVI). Começou a pregar sobre a salvação em Cristo Jesus. Os outros nove reclamavam e xingavam, todavia, Jamil, no auge da desesperança, agarrou-se àquelas palavras e deu total atenção ao jovem missionário. Os outros desistiram de murmurar e foram para o canto esquerdo da cela jogar carteado, enquanto que Jamil começava a ser trabalhado pela Palavra Sagrada. O jovem orou no final e Jamil pediu que ele voltasse, pois queria saber mais sobre Jesus.

Assim, o missionário conseguiu a permissão para evangelizar o detento toda a semana por quinze minutos. Jamil contou a sua história e ambos ficaram grandes amigos. No mês que se seguiu, aquele jovem se empenhou em tirá-lo dali. Entrou em contato com um advogado e procurou os familiares do detento. Trouxe notícias boas sobre a família dele já que ela estava sendo amparada por uma obra social de umas das igrejas de perto da sua casa. Também levou notícias de Jamil para os seus, tranquilizando-os sobre seu estado e situação junto à Justiça. O advogado conseguiu a libertação de Jamil. Mas a liberdade mais importante foi a que ocorreu na alma do ex-encarcerado. O rapaz evangelista tornou-se seu “pai na fé” e o ajudou também a restaurar a sua situação financeira, arrumando um emprego para ele.  Porém, Jamil ainda não havia tomado “aquela” decisão definitiva sobre sua salvação. Tinha muitas dúvidas na mente. O amigo cristão foi até sua casa numa noite e falou novamente de Jesus para ele e para a sua família. Nesse encontro o missionário enfatizou:

_ Jamil, todos erramos. Não se julgue pecador demais para ser salvo. A Bíblia diz: pois todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus (Rm 3:23 – NVI). Mas também diz: Portanto, agora já não há condenação para os que estão em Cristo Jesus.. (Rm 8:01 – NVI).

_ Então, missionário, o que eu preciso fazer? O que é estar em Cristo Jesus?

_Simples, ouça essa história. O evangelista contou a narrativa da conversão do carcereiro de Filipos, que está registrada no livro de Atos capítulo 16. E destacou:

_Escutem a fala do carcereiro quando viu que Paulo e Silas não haviam fugido da prisão, quando um grande terremoto assolou aquele lugar; ouçam o que as Escrituras dizem: o carcereiro pediu luz, entrou correndo e, trêmulo, prostrou-se diante de Paulo e Silas.  Então levou-os para fora e perguntou: “Senhores, que devo fazer para ser salvo?” Eles responderam: “Creia no Senhor Jesus, e serão salvos, você e os de sua casa.”  (At 16:29-31 – NVI). É isso, Jamil! Você e a sua família precisam receber Jesus como Senhor e Salvador de suas vidas.

_ E como fazemos isso?

_ Orando com fé e se entregando a Ele. Vocês querem fazer essa oração? É simples!

Jamil e a família disseram:

_ Sim! Se for simples assim, queremos receber Jesus em nosso coração.

_Repitam após mim essas palavras: “Senhor Jesus, eu O recebo em meu coração como Senhor e Salvador de minha vida. Reconheço que sou pecador e que somente o Senhor pode perdoar os meus pecados e me garantir um lugar no Céu. Portanto, confio somente em ti para a vida eterna. Muda meu coração, pois quero te servir para sempre. Amém!” Firmes?!

_ Sim, firmes! Eles responderam com um enorme sorriso nos lábios.

Dali para a Igreja foi rapidinho. Jamil tornou-se parceiro missionário de seu amigo e irmão evangelista, e agora ambos passaram a visitar os presídios, as casas de detenção e as cadeias, juntos, pregando o amor de Deus. Eles testemunharam com suas vidas o verdadeiro valor do evangelismo. Jamil voltou várias vezes àquela delegacia e à cela onde quase perdeu a vida. Entretanto, agora para ajudar os outros. Lá, encontrou Reginaldo, um rapaz completamente envolvido pelas drogas. Em pouco tempo estavam amigos, e tudo começou porque Jamil pediu quinze minutos de conversa com ele, sendo autorizado pelo delegado que agora dirigia aquela delegacia. Jamil ia uma vez por semana visitá-lo e o acompanhou quando o rapaz saiu da cadeia. Jamil arrumou para ele, junto à sua igreja, uma casa de recuperação e sempre ia com o seu irmão missionário fazer uma visita ao rapaz. E agora eles tinham bem mais do que quinze minutos para falarem de vida, de cura, de libertação e do grande amor de Cristo.



   Reflexão:

            Sabemos que nas cadeias e presídios do nosso país existem muitas vidas que estão lá e já não eram mais para estar: ou porque já cumpriram a pena ou porque são inocentes e nunca conseguiram provar isto. O fato é que, de alguma forma, foram esquecidos pela Justiça. É certo que muitas decisões da Suprema Corte do País, o Supremo Tribunal Federal, têm nos trazido esperança de que a corrupção e a injustiça estão sendo combatidas decisivamente. Mas a verdade é que a justiça humana, justamente por ser conduzida por seres humanos, é falha. A verdadeira Justiça é a que vem do Alto. E é essa que precisa ser pregada e anunciada.

            Se Jamil não recebesse a visita daquele missionário, quem garante que ele não tentaria de novo o suicídio? Os quinze minutos gastos, ou melhor, investidos na vida de Jamil por aquele jovem missionário, foram fundamentais para a mudança de vida que ocorreu naquele detento. Quinze minutos podem parecer pouco tempo, mas podem fazer toda a diferença para quem não tem direção para a sua vida, para quem está abandonado, rejeitado pela sociedade ou em desespero. Quanto tempo você e eu temos investido na vida de quem sofre ou de quem está abandonado pelos homens, mas nunca abandonado por Deus? Há tempo para todo propósito debaixo do céu, inclusive para dedicar algum tempo ao próximo. Jesus disse que faríamos bem a Ele se fizéssemos a um desses seus pequeninos. Então, mexa-se! Jamil recebeu a Palavra de um missionário e depois a levou, como um missionário, ao jovem Reginaldo. Porque o que de graças recebestes de graça dai (Mt 10: 08b – RA). Deus espera que continuemos essa multiplicação. Vamos lá?!

 (Gilmar  Cabral)


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