"Raras são as palavras monossêmicas. Como a vida, todo vocábulo é plural. A sabedoria consiste em aplicá-lo adequadamente e ressignificá-lo de modo a extrair toda a sua riqueza.
Madame A. frisou que as palavras são como aves, voam no oco do céu, vivem em completa liberdade, despreocupadas se são ou não observadas, pronunciadas, redigidas, digitalizadas ou lidas. Às vezes pousam em nossa mente ou em nosso sentimento e, se não as agarramos, tornam a alçar voo e desaparecem.
Os poetas, disse ela, são exímios caçadores de palavras. Andam por lugares ermos com aquelas redes de apanhar borboletas, à caça de palavras raras e belas. Ao encontrarem uma, tratam de se aproximar sem fazer ruído e, em movimento ágil e delicado, a aprisionam no verso. As palavras não se incomodam, sabem que, na poesia, ganham a liberdade de expressão sem perder a de voar.
Toda poesia aspira a alçar voo e fazer ninho lá onde habita e se esconde o silêncio."
(Frei Beto. A aldeia do silêncio. Rocco. p.124-125)
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