sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Leal é Quem Não Entra em Armação

     

Se eu continuar vivo, seja leal comigo, com a lealdade do Senhor; mas se eu morrer, jamais deixe de ser leal com a minha família, mesmo quando o Senhor eliminar da face da terra todos os inimigos de Davi.
                                            (I Sm 20: 14-15 – NVI) 
  
Os três gerentes da loja de sapatos “Calce Bem” estavam em polvorosa. Dentre eles estava Daniel, o único cristão da “parada”.  O problema é que o dono da sapataria, seu Davi, que já se encontrava na casa dos seus oitenta anos, mas não desistia de tocar o negócio, havia decidido não mais comprar calçados de seu antigo fornecedor; agora tinha descoberto um novo fabricante de sapatos numa linha mais atualizada; o velho tinha tino pra coisa. Só que isto gerou aflição entre os gerentes das três únicas lojas da “Calce Bem”: ficaram com medo de que a novidade no design dos novos calçados não agradasse aos antigos clientes das lojas.
Dessa aflição também compactuava o filho mais velho de seu Davi, seu Absalão. Há muito que ele vinha buscando uma oportunidade para ganhar a confiança dos gerentes para tentar tirar o pai de jogada. Esse dia chegou. Ambos marcaram uma reunião fora do horário de trabalho, na casa de Absalão, para tratarem de arquitetar um plano para afastarem o pai dele do comando da Firma. Daniel, o cristão, começou a ficar incomodado com essa situação, pois ele sabia que se tratava de traição, e das grossas. Então se posicionou no meio da conversa:
_ Vejam bem, não acho certo irmos contra a decisão de seu Davi e nem mesmo de armarmos para tirá-lo da frente dos negócios. Ele está velho? Sim, é fato. Porém, foi ele quem construiu a “Calce Bem”, não é justo agirmos desta forma com ele agora. Além do mais, seu Absalão, ele é o seu pai. Não faça isto!
Absalão não ficou calado:
_ Sabia que você iria, com suas crenças, atrapalhar o processo. Bem que eu avisei a vocês dois que ele ia dar de contra! Olha aqui! Como você mesmo falou, ele construiu a “Calce Bem”, mas não foi sozinho, não! Eu, minha falecida mãe e meu outro irmão mais novo também “ralamos” para que essa empresa acontecesse! Além disso, não vou deixar que aquele velho caduco arruíne a nossa Firma! Então, se enquadre nisso ou vai rodar!
_ Então rodarei! Mas não serei desleal com seu pai, foi ele quem me abriu as portas para trabalhar na “Calce Bem” e me guindou ao posto de gerente da loja 2. Amanhã, conversaremos eu, você e o seu pai sobre essa situação!.
_ Está bem! Veremos quem vai ficar na empresa!
A reunião quase foi para as vias da agressão física. Mas Daniel conteve-se e foi para casa.
No dia seguinte, os três estavam no escritório da empresa. Absalão foi logo acusando Daniel de ter insultado a ele e aos seus irmãos, mentindo de forma descarada ao dizer que o gerente havia falado que ele e os seus irmãos não haviam contribuído com nada para o crescimento da Sapataria. Daniel defendeu-se afirmando que não era verdade e que ele apenas havia reconhecido que o seu Davi tinha praticamente construído a “Calce Bem” sozinho, embora depois reconhecesse a importante contribuição de seus familiares nessa história.
O idoso comerciante pediu que ambos se calassem e, falando por quinze minutos, reafirmou que a família havia sim sido importante para o seu crescimento, mas também deixou claro que, no início, até sua esposa era contra o projeto, mas que ele teve uma visão e correu atrás. Todavia, surpreendeu ambos quando disse que a verdadeira questão que motivava aquela reunião ainda não havia sido colocada pelos dois.
_Qual? – perguntou Absalão!
_ A questão da traição armada contra mim!
Até mesmo Daniel ficou aturdido com a declaração do velhinho. Absalão, pálido e com as pernas bambas, foi logo se entregando ao acusar Daniel de X-9, traidor, e etc.. Mas seu Davi foi firme:
_ Não Absalão! Não foi o Daniel quem me contou. Foi o Judas.
_ O Judas! O gerente da loja 3!?             
_Sim. Ele ficou com medo de que o Daniel falasse para mim o ocorrido e quis limpar a barra dele antes. Entregou tudo que aconteceu na reunião de vocês.
_ Safado!
_Cala a sua boca Absalão! Nunca pensei que você fosse capaz de uma atitude dessas! A partir de hoje, você está fora da “Calce Bem”. Vou providenciar a sua parte na herança e entregá-la para você viver a sua vida. Salomão, seu irmão, abaixo de você, assumirá as lojas a partir da semana que vem. Vou descansar. Vou só fechar o negócio com o novo fornecedor. Judas e Acabe (o da loja 1- a matriz) estão fora. Seu irmão contratará dois novos gerentes. Só ficará empregado o Daniel, que assumirá a loja 1, a maior, pois foi leal ao se posicionar contra a sua maluquice, Absalão!
Daniel ficou com o emprego, mas acima de tudo, ficou com sua honra. A lealdade e a fidelidade são marcas de um verdadeiro cristão. Esta palavra é digna de confiança: Se morrermos com ele, com ele também viveremos; se perseveramos, com ele também reinaremos. Se o negamos, ele também nos negará; se somos infiéis, ele permanece fiel, pois não pode negar-se a si mesmo (II Tm 2: 11-13 – NVI)..  


Reflexão:
Lealdade está virando artigo de luxo em muitas instituições e diversos grupos sociais. Geralmente, a lealdade começa a ruir quando entram os projetos pessoais em detrimento do bem estar coletivo. Em nome da vaidade pessoal, indivíduos se corrompem facilmente. A Palavra de Deus nos diz que Davi atendeu ao pedido de Jônatas (II Sm 20:14-15) de ser leal para com a família dele mesmo ele já morto. Davi resgatou Mefibosete, filho de Jônatas e aleijado dos pés, da cidade abandonada de Lo-Debar trazendo-o para Jerusalém e ainda o tratou como um verdadeiro príncipe ao permitir que ele fizesse as refeições à mesa do Rei.  Fez isso por causa do seu temor a Deus (que zela pela lealdade) e por causa da lealdade ao seu já falecido amigo Jônatas, filho do Rei Saul. 
No conto, Daniel também acabou recebendo a recompensa por ser leal ao seu Davi e por não compactuar com a traição. Absalão agiu igual ao Absalão da Bíblia armou contra o pai. Pessoas como ele, os irmãos de José e Judas Iscariotes (nem tanto o do conto, mas o da Bíblia) erram feio por faltarem com a lealdade. E o pior é que esses tipos ainda estão por aí: nas lojas, na política, nas Igrejas, enfim, em todos os lugares na sociedade. O confortante é sabermos que igualmente ainda existe gente como o Daniel por aí, tanto se parecendo com o do conto quanto semelhante ao da Bíblia: íntegro e fiel.          

(Gilmar Cabral)









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