Se eu
continuar vivo, seja leal comigo, com a lealdade do Senhor; mas se eu morrer,
jamais deixe de ser leal com a minha família, mesmo quando o Senhor eliminar da
face da terra todos os inimigos de Davi.
(I Sm 20: 14-15 – NVI)
Os três gerentes da loja
de sapatos “Calce Bem” estavam em polvorosa. Dentre eles estava Daniel, o único
cristão da “parada”. O problema é que o
dono da sapataria, seu Davi, que já se encontrava na casa dos seus oitenta
anos, mas não desistia de tocar o negócio, havia decidido não mais comprar
calçados de seu antigo fornecedor; agora tinha descoberto um novo fabricante de
sapatos numa linha mais atualizada; o velho tinha tino pra coisa. Só que isto
gerou aflição entre os gerentes das três únicas lojas da “Calce Bem”: ficaram
com medo de que a novidade no design dos novos calçados não agradasse aos
antigos clientes das lojas.
Dessa aflição também
compactuava o filho mais velho de seu Davi, seu Absalão. Há muito que ele vinha
buscando uma oportunidade para ganhar a confiança dos gerentes para tentar
tirar o pai de jogada. Esse dia chegou. Ambos marcaram uma reunião fora do
horário de trabalho, na casa de Absalão, para tratarem de arquitetar um plano
para afastarem o pai dele do comando da Firma. Daniel, o cristão, começou a
ficar incomodado com essa situação, pois ele sabia que se tratava de traição, e
das grossas. Então se posicionou no meio da conversa:
_ Vejam bem, não acho
certo irmos contra a decisão de seu Davi e nem mesmo de armarmos para tirá-lo
da frente dos negócios. Ele está velho? Sim, é fato. Porém, foi ele quem
construiu a “Calce Bem”, não é justo agirmos desta forma com ele agora. Além do
mais, seu Absalão, ele é o seu pai. Não faça isto!
Absalão não ficou calado:
_ Sabia que você iria, com
suas crenças, atrapalhar o processo. Bem que eu avisei a vocês dois que ele ia
dar de contra! Olha aqui! Como você mesmo falou, ele construiu a “Calce Bem”,
mas não foi sozinho, não! Eu, minha falecida mãe e meu outro irmão mais novo
também “ralamos” para que essa empresa acontecesse! Além disso, não vou deixar
que aquele velho caduco arruíne a nossa Firma! Então, se enquadre nisso ou vai
rodar!
_ Então rodarei! Mas não
serei desleal com seu pai, foi ele quem me abriu as portas para trabalhar na
“Calce Bem” e me guindou ao posto de gerente da loja 2. Amanhã, conversaremos
eu, você e o seu pai sobre essa situação!.
_ Está bem! Veremos quem
vai ficar na empresa!
A reunião quase foi para
as vias da agressão física. Mas Daniel conteve-se e foi para casa.
No dia seguinte, os três
estavam no escritório da empresa. Absalão foi logo acusando Daniel de ter
insultado a ele e aos seus irmãos, mentindo de forma descarada ao dizer que o
gerente havia falado que ele e os seus irmãos não haviam contribuído com nada
para o crescimento da Sapataria. Daniel defendeu-se afirmando que não era
verdade e que ele apenas havia reconhecido que o seu Davi tinha praticamente
construído a “Calce Bem” sozinho, embora depois reconhecesse a importante
contribuição de seus familiares nessa história.
O idoso comerciante pediu
que ambos se calassem e, falando por quinze
minutos, reafirmou que a família havia sim sido importante para o seu
crescimento, mas também deixou claro que, no início, até sua esposa era contra
o projeto, mas que ele teve uma visão e correu atrás. Todavia, surpreendeu
ambos quando disse que a verdadeira questão que motivava aquela reunião ainda
não havia sido colocada pelos dois.
_Qual? – perguntou
Absalão!
_ A questão da traição armada
contra mim!
Até mesmo Daniel ficou
aturdido com a declaração do velhinho. Absalão, pálido e com as pernas bambas,
foi logo se entregando ao acusar Daniel de X-9, traidor, e etc.. Mas seu Davi
foi firme:
_ Não Absalão! Não foi o
Daniel quem me contou. Foi o Judas.
_ O Judas! O gerente da
loja 3!?
_Sim. Ele ficou com medo
de que o Daniel falasse para mim o ocorrido e quis limpar a barra dele antes.
Entregou tudo que aconteceu na reunião de vocês.
_ Safado!
_Cala a sua boca Absalão!
Nunca pensei que você fosse capaz de uma atitude dessas! A partir de hoje, você
está fora da “Calce Bem”. Vou providenciar a sua parte na herança e entregá-la
para você viver a sua vida. Salomão, seu irmão, abaixo de você, assumirá as
lojas a partir da semana que vem. Vou descansar. Vou só fechar o negócio com o
novo fornecedor. Judas e Acabe (o da loja 1- a matriz) estão fora. Seu irmão
contratará dois novos gerentes. Só ficará empregado o Daniel, que assumirá a
loja 1, a maior, pois foi leal ao se posicionar contra a sua maluquice,
Absalão!
Daniel ficou com o
emprego, mas acima de tudo, ficou com sua honra. A lealdade e a fidelidade são
marcas de um verdadeiro cristão. Esta
palavra é digna de confiança: Se morrermos com ele, com ele também viveremos;
se perseveramos, com ele também reinaremos. Se o negamos, ele também nos
negará; se somos infiéis, ele permanece fiel, pois não pode negar-se a si mesmo
(II Tm 2: 11-13 – NVI)..
Reflexão:
Lealdade
está virando artigo de luxo em muitas instituições e diversos grupos sociais.
Geralmente, a lealdade começa a ruir quando entram os projetos pessoais em
detrimento do bem estar coletivo. Em nome da vaidade pessoal, indivíduos se
corrompem facilmente. A Palavra de Deus nos diz que Davi atendeu ao pedido de
Jônatas (II Sm
20:14-15) de ser leal para com a família
dele mesmo ele já morto. Davi resgatou Mefibosete, filho de Jônatas e aleijado
dos pés, da cidade abandonada de Lo-Debar trazendo-o para Jerusalém e ainda o
tratou como um verdadeiro príncipe ao permitir que ele fizesse as refeições à
mesa do Rei. Fez isso por causa do seu
temor a Deus (que zela pela lealdade) e por causa da lealdade ao seu já
falecido amigo Jônatas, filho do Rei Saul.
No
conto, Daniel também acabou recebendo a recompensa por ser leal ao seu Davi e
por não compactuar com a traição. Absalão agiu igual ao Absalão da Bíblia armou
contra o pai. Pessoas como ele, os irmãos de José e Judas Iscariotes (nem tanto o do
conto, mas o da Bíblia) erram feio por faltarem com a lealdade. E o pior é que
esses tipos ainda estão por aí: nas lojas, na política, nas Igrejas, enfim, em
todos os lugares na sociedade. O confortante é sabermos que igualmente ainda
existe gente como o Daniel por aí, tanto se parecendo com o do conto quanto
semelhante ao da Bíblia: íntegro e fiel.
(Gilmar Cabral)
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