quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

O Verdadeiro Serviço


Portanto, meus amados irmãos, mantenham-se firmes, e que nada os abale. Sejam sempre dedicados à obra do Senhor, pois vocês sabem que, no Senhor, o trabalho de vocês não será inútil.
                                                (I Co 15:58 - NVI) 

Irmã Aurelina tinha 89 anos. Faleceu de insuficiência respiratória após passar um mês na UTI do Hospital. Deixou a família e a Igreja com muitas saudades. Teve uma passagem da vida terrena para a vida eterna de forma silenciosa e serena, praticamente morreu dormindo.
            Um dia depois (isto no tempo cronológico) da chegada de irmã Aurelina ao Céu, a irmã Agatha chegou. Tinha 29 anos e partiu após sofrer um terrível acidente de carro na autoestrada Lagoa-Barra. Estava sozinha no veículo e deixou desespero e desolação na família. Era solteira e congregava na mesma Igreja que a irmã Aurelina. Um baque para o mesmo povo: perder duas irmãs queridas uma após a outra; com a diferença de apenas um dia. Ambas foram enterradas no mesmo Cemitério e foram para o mesmo lugar celestial, pois eram crentes fiéis. 
            Alheias a tudo isso, as irmãs recém-promovidas encontraram-se no Céu.
            _Querida irmã Agatha!
            _Olá! Querida irmã Aurelina! Faz muito tempo que a irmã chegou ao Céu?
            _Apenas um dia.
            _Eu cheguei agorinha, como a irmã acabou de presenciar.
            _Venha irmã Agatha! Apesar de estar há pouco tempo no Céu já me familiarizei com o local e posso apresentá-lo à irmã. Pois essa questão de tempo aqui é relativa; lembra o que dizem as Escrituras sobre isso: ...para o Senhor um dia é como mil anos, e mil anos como um dia (II Pe 3:08b - NVI)?
            _É verdade! Vamos conhecer este lindo lugar! Olha! O chão é de cristal e tem ruas de ouro! Lindo! Como a Bíblia diz: O muro era feito de jaspe, e a Cidade era de ouro puro, semelhante ao vidro puro (Ap 21:18 - NVI). 
            _Venha! Quero mostrar a minha casa para você, irmã Agatha!
            As duas começaram a caminhar pelas ruas do Céu e logo avistaram alguns personagens famosos.
            _Irmã Aurelina?
            _Sim!
            _Quem é aquele?
            _Deixe-me ver, é o irmão João, o apóstolo que escreveu João 3:16, o texto áureo da Bíblia.
            _Puxa! Tá tão velhinho! E aquele ali?
            _Aquele... espera aí.... ah, já sei! É o profeta Isaías, o que profetizou o nascimento do Emanuel que traduzido é “Deus conosco” (Is 7:14 e Mt 1:23).
            _Aposto que aquele é Moisés! Num é?
            _Por que ele seria Moisés?
            _Porque tem cara de Moisés ué! 
            _Mas não é não! É Elias.
            _O dos carros e cavaleiros de fogo?
            _Isso!
            _Aquela é Maria, na certa! Acertei irmã Aurelina?
            _Sim! Ela não é amorosa só de olhar?
            _É ... realmente deve ser uma mulher especial. Gostaria de ter uma longa conversa com ela.
            _Teremos todo o tempo do mundo para isso, minha filha, aqui o tempo é eterno... veja: esta é a minha casa!
            Agatha quando viu a mansão a sua frente, pensou: “essa velhinha deve estar tendo alucinações, não é possível! Ela não fazia nada na igreja! Coitada, será que está com vergonha de mostrar a sua casinha?” Disfarçando para não magoar a irmã que muito amava, dirigiu-se a ela e falou:
            _Que linda! Parabéns! Mal posso esperar para ver a minha! Rapidamente pensou: “Se a casa desta irmãzinha for esta mesmo, imagine a minha, já que trabalhei tanto na igreja! Acho que vou receber um Condomínio Celestial!”
            _Vamos entrar!
            As duas entraram e Agatha ficou ainda mais encantada com o que viu por dentro da mansão. Saíram depois de umas duas horas ou duzentos anos não sei; o tempo no Céu, como bem disse irmã Aurelina, é diferente do daqui: o tempo lá é atemporal, não está preso à contagem de segundos, minutos, horas, dias, meses e anos como acontece na terra. Decidiram visitar a casa de Agatha ou, como esta dizia em seu coração, a mega mansão ou “condomínio” da mais nova moradora do Reino Celestial. Agatha, ansiosa para ver sua propriedade eterna, perguntou:
            _Como faço para ver minha casa, irmã (sua fala foi modesta, afinal no Céu não há pecado de soberba e nem qual quer outro)? Com quem falo?
            _Ora, muito simples! Com Aquele que veio para preparar lugar para nós: Na casa de meu Pai há muitos aposentos; se não fosse assim, eu lhes teria dito. Vou preparar-lhes lugar (Jo 14:02 - NVI).
          _Não diga! Ele!? Jesus!?
            _Isso mesmo!
            _Beleza!
            E ambas foram até a sala do trono e entraram na presença do Senhor Jesus. Agatha correu e abraçou fortemente o Senhor e disse:
            _Senhor Jesus! Obrigado por me salvar e me reservar uma morada aqui no Céu! Este é um lugar Lindo!
            _Seja bem-vinda minha querida Agatha! Como você vê, eu cumpro o que prometo. Fique à vontade o Reino celestial é Nosso!
            _Obrigada, Jesus! Mas Senhor... eu quero pedir algo.
            _Pode pedir.
            _Gostaria de ver minha casa.
            _É muito simples! Vá pela rua principal e vire à direita, duas quadras depois, é ali, bem na esquina.
            _ Mais uma vez muito obrigada, Senhor Jesus!
            As duas irmãs partiram em direção à rua principal e viraram à direita conforme a orientação divina. Quando as duas olharam para a esquina, após pararem por ali, elas somente viram um casebre naquela esquina, humilde, mas bem arrumadinho. Agatha ficou constrangedoramente espantada e disse:
            _Deve ter havido algum engano! Só tem esta casa aqui!
            _Então, deve ser esta mesma, irmã. O Senhor jamais se engana.
            _Pois desta vez eu acho que Ele se enganou! Não é possível!
            _Realmente não é possível é Ele se enganar.
Disse a irmã Aurelina já sem graça por presenciar a visível decepção de Agatha quanto ao seu novo lar.
            _Mas eu trabalhei tanto na igreja para agora meu galardão ser um casebre na esquina!?
            _Vá falar com Ele, irmã! Ele é o justo Juiz!
            Agatha saiu correndo e em questão de minutos ou milênios (não sei) chegou até a Sala do Trono e, afoita, começou a reclamar com o Senhor:
            _Senhor! Perdoa-me, mas o Querido Mestre deve ter Se equivocado ao me dar aquela casa, melhor, aquele casebre!
            _Primeiro que não há necessidade de perdoá-la, pois no Céu não há pecado, embora reconheça sua decepção. Segundo: não me equivoquei não.
            _Mas como!? A irmã Aurelina que não fazia nada na igreja tem uma mansão e eu que “ralei pra dedel” no serviço cristão vou morar por toda a eternidade num casebre!? Apenas gostaria de entender meu Senhor.
            _Quem disse para você que a minha serva Aurelina não fazia nada? Você nunca reparou que ela chegava uns quinze minutos antes do início da programação para orar e interceder pelas reuniões?
            _Eu não consigo me lembrar, mas se o Senhor diz que isso acontecia, eu creio!
Falou Agatha já começando a entender aonde o Senhor queria chegar com aquelas palavras.
            _Pois é! As bênçãos, os milagres e a salvação de almas nas reuniões ocorriam, em grande parte, por causa da oração dessa grande intercessora. Quanto ao seu trabalho, você fez bastante para o meu Reino, só que, acumulando muitas atribuições na igreja, você acabou por cair no ativismo religioso, ou seja, fez muitas coisas para mostrar que estava fazendo e para demonstrar que sua participação era importante para o bom funcionamento da igreja. Assim, isto comprometeu a qualidade espiritual de seu trabalho. Faltou mais essência espiritual nas suas tarefas eclesiásticas, e isto foi exatamente o que sobrou no trabalho de oração da minha serva Aurelina. Portanto, agradeça a Deus por ter um casebre no Céu, pois é melhor do que uma mansão no Inferno.
            Agatha ajoelhou-se perante Jesus e, chorando muito, agradeceu a Ele de todo o coração. Jesus a levantou e afirmou:
_Não chore. Eu prometi enxugar do rosto toda lágrima aqui no Céu e vou cumprir isto: Ele enxugará dos seus olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor, pois a antiga ordem já passou (Ap 21:04 - NVI). Jesus lentamente passou os dedos nos olhos de Agatha e os enxugou. Deram um forte abraço e nisto chegou irmã Aurelina, que logo abraçou também Agatha e a convidou para passar alguns anos em sua mansão e, depois, elas ficariam bom tempo no casebre de Agatha. Despediram-se do Mestre e foram pelas ruas de ouro muito felizes; afinal, no Céu, ter uma rede presa na Árvore da Vida, para ficar, já é motivo para muito agradecimento e felicidade. 

Reflexão:
A história nos alerta quanto ao ativismo religioso e quanto ao julgamento que fazemos da qualidade da vida e do trabalho cristão do irmão. Fazer muitas coisas no Reino de Deus não representa necessariamente fazer a vontade de Deus. Muitas vezes é a nossa própria vontade de aparecer que estamos realizando. Tenho aprendido que a Obra do Senhor caminhará mesmo sem o meu trabalho. Ninguém é insubstituível no Reino, somos insubstituíveis individualmente, isto é, como indivíduos: não há no mundo ninguém semelhante a mim ou a você. No entanto, no Reino de Deus, todos são substituíveis. Na Bíblia lemos que Josué substituiu Moisés, Elizeu substituiu Elias, um rei vinha e substituía o outro e assim por diante. Portanto, se não fizermos o que fomos chamados para realizar, alguém Deus levantará para fazer em nosso lugar. Logo, porque queremos, muitas vezes, fazer tudo? Acabaremos por não fazer nenhuma coisa bem, como poderíamos se nos esforçássemos dentro de um limite. Assim, devemos ocupar funções de forma mais equilibrada e condizente com o tempo e condições que realmente dispomos.
Outra questão complicada é avaliarmos ou julgarmos quem faz mais ou quem faz a atividade mais importante para o Reino. Na visão de Deus, todo o trabalho feito com amor e sinceridade no Seu Reino é igualmente valorizado. Na Igreja: o que limpa a Casa de Deus; o que recebe as pessoas introduzindo-as no templo; o que evangeliza; o que canta; o que toca; o que lidera; o que prega; o que administra: o valor do trabalho é igual. A diferença está na qualidade de quem oferece o serviço a Deus. Se a irmã Agatha tivesse realizado o seu serviço com a mesma qualidade espiritual com a qual a irmã Aurelina exerceu o seu, receberia uma mansão também. Em Lucas 21:1-04, vemos que quem deu a maior oferta naquele dia, aos olhos de Jesus, foi a pobre viúva e não os abastados que colocavam grandes somas de dinheiro nas caixas de ofertas. Foi a qualidade da oferta e não a quantidade que fez a diferença: todos esses deram do que lhes sobrava; mas ela, da pobreza, deu tudo o que possuía para viver. (vv. 4 – NVI).

(Gilmar Cabral) 







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