Portanto, meus amados irmãos,
mantenham-se firmes, e que nada os abale. Sejam sempre dedicados à obra do
Senhor, pois vocês sabem que, no Senhor, o trabalho de vocês não será inútil.
(I
Co 15:58 - NVI)
Irmã Aurelina tinha 89
anos. Faleceu de insuficiência respiratória após passar um mês na UTI do
Hospital. Deixou a família e a Igreja com muitas saudades. Teve uma passagem da
vida terrena para a vida eterna de forma silenciosa e serena, praticamente
morreu dormindo.
Um
dia depois (isto no tempo cronológico) da chegada de irmã Aurelina ao Céu, a
irmã Agatha chegou. Tinha 29 anos e partiu após sofrer um terrível acidente de
carro na autoestrada Lagoa-Barra. Estava sozinha no veículo e deixou desespero
e desolação na família. Era solteira e congregava na mesma Igreja que a irmã
Aurelina. Um baque para o mesmo povo: perder duas irmãs queridas uma após a
outra; com a diferença de apenas um dia. Ambas foram enterradas no mesmo
Cemitério e foram para o mesmo lugar celestial, pois eram crentes fiéis.
Alheias
a tudo isso, as irmãs recém-promovidas encontraram-se no Céu.
_Querida
irmã Agatha!
_Olá!
Querida irmã Aurelina! Faz muito tempo que a irmã chegou ao Céu?
_Apenas
um dia.
_Eu
cheguei agorinha, como a irmã acabou de presenciar.
_Venha
irmã Agatha! Apesar de estar há pouco tempo no Céu já me familiarizei com o
local e posso apresentá-lo à irmã. Pois essa questão de tempo aqui é relativa;
lembra o que dizem as Escrituras sobre isso: ...para o Senhor um dia é como mil anos, e mil anos como um dia (II
Pe 3:08b - NVI)?
_É
verdade! Vamos conhecer este lindo lugar! Olha! O chão é de cristal e tem ruas de
ouro! Lindo! Como a Bíblia diz: O muro
era feito de jaspe, e a Cidade era de ouro puro, semelhante ao vidro puro (Ap
21:18 - NVI).
_Venha!
Quero mostrar a minha casa para você, irmã Agatha!
As
duas começaram a caminhar pelas ruas do Céu e logo avistaram alguns personagens
famosos.
_Irmã
Aurelina?
_Sim!
_Quem
é aquele?
_Deixe-me
ver, é o irmão João, o apóstolo que escreveu João 3:16, o texto áureo da
Bíblia.
_Puxa!
Tá tão velhinho! E aquele ali?
_Aquele...
espera aí.... ah, já sei! É o profeta Isaías, o que profetizou o nascimento do
Emanuel que traduzido é “Deus conosco” (Is 7:14 e Mt 1:23).
_Aposto
que aquele é Moisés! Num é?
_Por
que ele seria Moisés?
_Porque
tem cara de Moisés ué!
_Mas
não é não! É Elias.
_O
dos carros e cavaleiros de fogo?
_Isso!
_Aquela
é Maria, na certa! Acertei irmã Aurelina?
_Sim!
Ela não é amorosa só de olhar?
_É
... realmente deve ser uma mulher especial. Gostaria de ter uma longa conversa
com ela.
_Teremos
todo o tempo do mundo para isso, minha filha, aqui o tempo é eterno... veja: esta
é a minha casa!
Agatha
quando viu a mansão a sua frente, pensou: “essa velhinha deve estar tendo
alucinações, não é possível! Ela não fazia nada na igreja! Coitada, será que
está com vergonha de mostrar a sua casinha?” Disfarçando para não magoar a irmã
que muito amava, dirigiu-se a ela e falou:
_Que
linda! Parabéns! Mal posso esperar para ver a minha! Rapidamente pensou: “Se a casa
desta irmãzinha for esta mesmo, imagine a minha, já que trabalhei tanto na
igreja! Acho que vou receber um Condomínio Celestial!”
_Vamos
entrar!
As
duas entraram e Agatha ficou ainda mais encantada com o que viu por dentro da
mansão. Saíram depois de umas duas horas ou duzentos anos não sei; o tempo no
Céu, como bem disse irmã Aurelina, é diferente do daqui: o tempo lá é
atemporal, não está preso à contagem de segundos, minutos, horas, dias, meses e
anos como acontece na terra. Decidiram visitar a casa de Agatha ou, como esta
dizia em seu coração, a mega mansão ou “condomínio” da mais nova moradora do
Reino Celestial. Agatha, ansiosa para ver sua propriedade eterna, perguntou:
_Como
faço para ver minha casa, irmã (sua
fala foi modesta, afinal no Céu não há pecado de soberba e nem qual quer
outro)? Com quem falo?
_Ora,
muito simples! Com Aquele que veio para preparar lugar para nós: Na casa de meu Pai há muitos aposentos; se
não fosse assim, eu lhes teria dito. Vou preparar-lhes lugar (Jo 14:02 -
NVI).
_Não diga! Ele!? Jesus!?
_Isso
mesmo!
_Beleza!
E
ambas foram até a sala do trono e entraram na presença do Senhor Jesus. Agatha
correu e abraçou fortemente o Senhor e disse:
_Senhor
Jesus! Obrigado por me salvar e me reservar uma morada aqui no Céu! Este é um
lugar Lindo!
_Seja
bem-vinda minha querida Agatha! Como você vê, eu cumpro o que prometo. Fique à
vontade o Reino celestial é Nosso!
_Obrigada,
Jesus! Mas Senhor... eu quero pedir algo.
_Pode
pedir.
_Gostaria
de ver minha casa.
_É
muito simples! Vá pela rua principal e vire à direita, duas quadras depois, é
ali, bem na esquina.
_
Mais uma vez muito obrigada, Senhor Jesus!
As
duas irmãs partiram em direção à rua principal e viraram à direita conforme a
orientação divina. Quando as duas olharam para a esquina, após pararem por ali,
elas somente viram um casebre naquela esquina, humilde, mas bem arrumadinho.
Agatha ficou constrangedoramente espantada e disse:
_Deve
ter havido algum engano! Só tem esta casa aqui!
_Então,
deve ser esta mesma, irmã. O Senhor jamais se engana.
_Pois
desta vez eu acho que Ele se enganou! Não é possível!
_Realmente
não é possível é Ele se enganar.
Disse a irmã Aurelina já
sem graça por presenciar a visível decepção de Agatha quanto ao seu novo lar.
_Mas
eu trabalhei tanto na igreja para agora meu galardão ser um casebre na
esquina!?
_Vá
falar com Ele, irmã! Ele é o justo Juiz!
Agatha
saiu correndo e em questão de minutos ou milênios (não sei) chegou até a Sala
do Trono e, afoita, começou a reclamar com o Senhor:
_Senhor!
Perdoa-me, mas o Querido Mestre deve ter Se equivocado ao me dar aquela casa,
melhor, aquele casebre!
_Primeiro
que não há necessidade de perdoá-la, pois no Céu não há pecado, embora
reconheça sua decepção. Segundo: não me equivoquei não.
_Mas
como!? A irmã Aurelina que não fazia nada na igreja tem uma mansão e eu que
“ralei pra dedel” no serviço cristão vou morar por toda a eternidade num
casebre!? Apenas gostaria de entender meu Senhor.
_Quem
disse para você que a minha serva Aurelina não fazia nada? Você nunca reparou
que ela chegava uns quinze minutos
antes do início da programação para orar e interceder pelas reuniões?
_Eu
não consigo me lembrar, mas se o Senhor diz que isso acontecia, eu creio!
Falou Agatha já começando
a entender aonde o Senhor queria chegar com aquelas palavras.
_Pois é! As bênçãos, os
milagres e a salvação de almas nas reuniões ocorriam, em grande parte, por
causa da oração dessa grande intercessora. Quanto ao seu trabalho, você fez
bastante para o meu Reino, só que, acumulando muitas atribuições na igreja,
você acabou por cair no ativismo religioso, ou seja, fez muitas coisas para
mostrar que estava fazendo e para demonstrar que sua participação era
importante para o bom funcionamento da igreja. Assim, isto comprometeu a
qualidade espiritual de seu trabalho. Faltou mais essência espiritual nas suas
tarefas eclesiásticas, e isto foi exatamente o que sobrou no trabalho de oração
da minha serva Aurelina. Portanto, agradeça a Deus por ter um casebre no Céu,
pois é melhor do que uma mansão no Inferno.
Agatha
ajoelhou-se perante Jesus e, chorando muito, agradeceu a Ele de todo o coração.
Jesus a levantou e afirmou:
_Não chore. Eu prometi
enxugar do rosto toda lágrima aqui no Céu e vou cumprir isto: Ele enxugará dos seus olhos toda lágrima.
Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor, pois a antiga ordem já
passou (Ap 21:04 - NVI). Jesus lentamente passou os dedos nos olhos de
Agatha e os enxugou. Deram um forte abraço e nisto chegou irmã Aurelina, que
logo abraçou também Agatha e a convidou para passar alguns anos em sua mansão
e, depois, elas ficariam bom tempo no casebre de Agatha. Despediram-se do
Mestre e foram pelas ruas de ouro muito felizes; afinal, no Céu, ter uma rede
presa na Árvore da Vida, para ficar, já é motivo para muito agradecimento e
felicidade.
Reflexão:
A
história nos alerta quanto ao ativismo religioso e quanto ao julgamento que
fazemos da qualidade da vida e do trabalho cristão do irmão. Fazer muitas
coisas no Reino de Deus não representa necessariamente fazer a vontade de Deus.
Muitas vezes é a nossa própria vontade de aparecer que estamos realizando.
Tenho aprendido que a Obra do Senhor caminhará mesmo sem o meu trabalho.
Ninguém é insubstituível no Reino, somos insubstituíveis individualmente, isto
é, como indivíduos: não há no mundo ninguém semelhante a mim ou a você. No
entanto, no Reino de Deus, todos são substituíveis. Na Bíblia lemos que Josué
substituiu Moisés, Elizeu substituiu Elias, um rei vinha e substituía o outro e
assim por diante. Portanto, se não fizermos o que fomos chamados para realizar,
alguém Deus levantará para fazer em nosso lugar. Logo, porque queremos, muitas
vezes, fazer tudo? Acabaremos por não fazer nenhuma coisa bem, como poderíamos
se nos esforçássemos dentro de um limite. Assim, devemos ocupar funções de
forma mais equilibrada e condizente com o tempo e condições que realmente
dispomos.
Outra
questão complicada é avaliarmos ou julgarmos quem faz mais ou quem faz a
atividade mais importante para o Reino. Na visão de Deus, todo o trabalho feito
com amor e sinceridade no Seu Reino é igualmente valorizado. Na Igreja: o que
limpa a Casa de Deus; o que recebe as pessoas introduzindo-as no templo; o que
evangeliza; o que canta; o que toca; o que lidera; o que prega; o que
administra: o valor do trabalho é igual. A diferença está na qualidade de quem
oferece o serviço a Deus. Se a irmã Agatha tivesse realizado o seu serviço com
a mesma qualidade espiritual com a qual a irmã Aurelina exerceu o seu,
receberia uma mansão também. Em Lucas 21:1-04, vemos que quem deu a maior
oferta naquele dia, aos olhos de Jesus, foi a pobre viúva e não os abastados
que colocavam grandes somas de dinheiro nas caixas de ofertas. Foi a qualidade
da oferta e não a quantidade que fez a diferença: todos esses deram do que lhes sobrava; mas ela, da pobreza, deu tudo o
que possuía para viver. (vv.
4 – NVI).
(Gilmar Cabral)
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