quarta-feira, 2 de março de 2016

Romance Nova Chance - Capítulo 3

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A distinção entre passado, presente e futuro é apenas uma ilusão teimosamente persistente.
(Albert Einstein)

            Quando Alisson deu por si, já era a hora do almoço. Perdeu a manhã toda de trabalho tentando se encontrar no tempo e nas circunstâncias. Ele passara por um daqueles momentos que todos pelo menos uma vez já passaram, o de parar para refletir sobre algo que têm de resolver e não dar conta de que o tempo “correu” e ainda estão imobilizados na tentativa de pensar que atitudes tomarão.
Retornou à Empresa e nem passou por sua sala, não tinha cabeça para nada a não ser encontrar uma razão em toda aquela confusão que vivia. Dirigiu-se cegamente para a sala de Camily e lá achou novamente Elizabeth telefonando para tudo quanto era lugar onde poderia estar a amiga e chefe; e nada. Aproximando-se dela, Alisson perguntou:
_Nenhuma notícia?
_Combinamos que eu ligaria se tivesse alguma notícia. Como eu não liguei... – respondeu Elizabeth com certa impaciência.
_É verdade. Desculpe! Eu realmente estou ansioso por informações. 
_Entendo... , seu Alisson, eu liguei para todos os lugares em que ela poderia estar. Até para o dentista dela e nada. Acho que já é hora de comunicarmos a alguém.
_Elizabeth, primeiramente, vamos acabar com esse tratamento formal de “seu Alisson”. Pode me chamar somente de Alisson. Segundo, por favor, me informe se Camily tinha parentes aqui na Cidade: pai, mãe, irmãos..., diga se ela era casada ou noiva. Sabe de alguma coisa?
_Desculpe pelo tratamento formal, mas é que hierarquicamente eu sou inferior ao senhor aqui na Empresa, porém, se este tratamento o incomoda, vou chamá-lo simplesmente pelo nome. Quanto a essa informação de parentesco, até onde eu sei: Camily mora sozinha aqui no Rio de Janeiro. Seus parentes moram no Acre, e assim mesmo são tios e alguns primos. Seus pais faleceram já há algum tempo. Ela veio para o Rio e venceu sozinha. É filha única.
_Que interessante! Que moça de fibra! Fale–me mais sobre ela – disse Alisson mostrando interesse pela moça.
_Sei dessas informações e onde ela mora. Entretanto, já liguei para o seu telefone residencial e ninguém atende. Da vida pessoal, só isto que sei. Tenho certeza de que não é casada e parece-me que não tem namorado. Ah! Lembrei!
_ Do namorado dela?
_ Não, Alisson. Lembrei-me que ela frequenta uma igreja evangélica no bairro onde mora, ou seja, no Recreio. Até que aparenta ser muito crente. De vez em quando, falava para mim um pouco sobre sua religião, mas nunca foi chata e persistente. Sempre soube respeitar a minha fé católica. Aliás, acabávamos achando muito mais pontos em comum do que divergentes em nossas crenças.
_Sei... poderíamos ir até a casa dela? – perguntou Alisson.
_Eu já acho melhor notificarmos à Polícia seu sumiço.
_É necessário passar vinte e quatro horas para caracterizar um desaparecimento e assim a Polícia averiguar. – falou Alisson com segurança do que estava dizendo.
_Mas em menos tempo do que este quem sumiu pode estar passando perigo! Ou não?! – indagou preocupada Elizabeth.  
_É verdade. No entanto, é assim que funciona. Você falou com ela pela última vez quando?
_Ontem, por volta das 13 horas, quando nos despedimos após o almoço. – lembrou-se Elizabeth. Depois ela voltou para a Empresa e eu fui ao médico, pois tinha uma consulta marcada com a minha ginecologista a mais de um mês, e não podia faltar. Camily me liberou; despedimo-nos e cada uma foi para o seu destino. Espera aí! Observei quando cheguei que as coisas aqui no Escritório estão exatamente como deixamos. Será... que ela... não voltou para a Empresa?
_Você não tem como averiguar isso, Elizabeth?
_Sim, claro que sim! Fique aqui que eu vou perguntar à recepcionista se Camily retornou depois do almoço para a Empresa. Meu Deus! Por que não pensei nisto antes?
Elizabeth saiu esbaforida até à recepção; enquanto que Alisson ficou ali, sozinho na sala de Camily. Aproveitou aqueles segundos preciosos para admirar um pouco as coisas que estavam em cima da mesa da recém-sumida. Viu um exemplar da Bíblia bem no canto da mesa. Observou um porta-retratos com a foto de Camily ao lado de sua amiga e assistente; percebeu com muita atenção o fundo da fotografia, que parecia com a imagem de um lugar montanhoso e muito bonito, ensolarado. Rapidamente passou os olhos em Camily, mas subitamente foi atraído a olhar para ela de novo; notou-a muito mais bonita na foto do que no dia a dia ali na Empresa. Ela estava solta, extrovertida, alegre e não tão introvertida e concentrada como geralmente era notada no trabalho. Essa hipnótica e envolvente atração pela imagem de Camily foi abruptamente quebrada com a chegada repentina de Elizabeth à sala.
_Ela não voltou! (Falou mais assustada ainda). Ninguém a viu retornar. Nesse caso, ela pode ter sumido após ter estado comigo, depois do almoço!         
_É..., se não retornou do almoço e se mais ninguém falou com ela depois disto, tendo em vista que Camily não apareceu até agora, e como já são meio dia e trinta, daqui a trinta minutos ela poderá ser considerada desaparecida. Vamos fazer o seguinte: iremos comer alguma coisa, pois já estamos na hora do almoço, e seguimos juntos para a Delegacia mais próxima, a fim de registrarmos a ocorrência, certo? – propôs Alisson.
_Está bem! Vou pegar a minha bolsa para sairmos.   
Ambos saíram. Passaram num pequeno restaurante perto da Empresa e não deu outra: pouco se conheciam e com o assunto “Camily” fervilhando, o prato do dia, além de ser muita verdura e legumes com alguns grelhados, foi também o desaparecimento de Camily. Procuraram buscar alternativas para o sumiço da jovem. Elizabeth estava desconfiada de que Camily estivesse doente e “pregada” na cama; por isso não teria se animado para atender aos telefonemas. Contudo, tinha que admitir que, cuidadosa como era, teria ligado para avisar a sua falta, e se ela achasse que o seu caso fosse grave, teria ido imediatamente ao médico para receber o devido tratamento.
Alisson acreditava em algo mais complicado, como sequestro, assalto, etc.., na verdade, ele já sabia o que acontecera ou pelo menos acreditava que soubesse (com base nas informações de seu sumiço inexplicável no suposto ano de 2009, agora revivido). De certa forma, tentava preparar Elizabeth para o pior. Percebeu que a assistente de Camily gostava verdadeiramente dela como amiga. Alisson sabia como era difícil encontrar um funcionário ou mesmo colega de empresa que goste verdadeiramente de você e não veja a “amizade” com o chefe apenas como uma oportunidade de conseguir benefícios no trabalho. Passou a admirar Elizabeth por sua dedicação à Camily, mesmo esta estando ausente. Isso comprovava a sua fidelidade e dedicação à chefa e amiga.

Decidiram, após o almoço, que antes de irem à Delegacia iriam dar uma “passadinha” na casa de Camily somente para verificar se a hipótese, não muito segura de Elizabeth, estava certa. Entraram no carro de Alisson e foram. Durante a viagem, que não seria curta por causa do trânsito congestionado, Elizabeth instruía o motorista, pois ali, somente ela sabia o caminho até a casa da amiga. Logo voltaram a falar um pouco mais sobre Camily. Elizabeth falava muito bem da chefa e dizia como ela era correta e profissional competente, sem deixar de ser humana com ela e com os demais funcionários de seu setor. Alisson, ao volante, começava a se deliciar com a descrição da personalidade de Camily feita com precisão por sua assistente. Iniciava uma descoberta interessante sobre uma funcionária da Empresa com a qual convivia pouco em termos de relações, mas que lidava profissionalmente já algum tempo.
Alisson estranhamente parou de pensar na imagem descrita sobre Camily e lembrou-se que estava com uma também jovem atraente em seu carro no banco do carona. Elizabeth não era uma linda mulher, mais tinha seus atrativos, principalmente, seus olhos castanhos claros, sua pele clara, com charmosas sardas, e seu cabelo ruivo. Elizabeth fora estagiária na Empresa no tempo que ainda cursava Economia na Universidade. Quando terminou o curso, conseguiu a efetivação no emprego. E em um ano já estava trabalhando como assistente de Camily no setor de engenharia de produção. Como era uma moça de temperamento tranquilo e muito dedicada no serviço, não demorou muito para que ambas ficassem amigas, levando o relacionamento de amizade para além do âmbito profissional. 
 Alisson deu-se conta de que se Alexia, a antiga namorada, em tempos áureos, o pegasse assim, com uma moça ruiva e atraente em seu veículo, seria “trucidado” pela ex-namorada ciumenta. Então, os pensamentos o turbaram mais, pois, se seus cálculos estavam corretos, ele ainda estava de namoro com Alexia já que o término do relacionamento acontecera em setembro de dois mil e onze. Ele estava, precisamente, em vinte e sete de fevereiro de dois mil e nove. Constatação: estava de namoro com Alexia. Por um momento, temeu mais este fato do que estar em outro tempo.
Elizabeth notou que falava e o motorista não mais a ouvia. Daí parou de narrar fatos sobre a vida de Camily. Ele perguntou:
_Por que você parou de falar sobre Camily? Eu estava gostando de ouvir coisas tão boas de uma colega de trabalho que eu não conhecia bem.
_Parei porque você não estava mais me ouvindo.
_É que eu tenho que manter a minha atenção no trânsito.
_Não, não. Tinha algo a mais que a preocupação com a direção do carro.
_Nada sem muita importância... – Alisson tentou desconversar.
_Puxa! Se não tinha importância e tirou você do circuito da minha conversa, algo que você julgue realmente importante vai nos levar para debaixo de um caminhão! – falou Elizabeth descontraindo a viagem.  
Ambos riram e perceberam que haviam chegado. Eles desceram do carro após Alisson estacionar ali perto e dirigiram-se até a entrada da casa. Não era apartamento. Camily não gostava de apartamentos, condomínios, etc. Essa preferência por casa vinha de sua família humilde lá no Acre. Lá, ela passara sua infância e parte de sua adolescência ajudando seus pais a cuidar do pequeno sítio da família. Não tinham muita coisa, apenas algumas galinhas e uma pequena horta. Seu pai, após anos de trabalho na lavoura, adoecera. Sua mãe fazia doces caseiros para vender a fim de completar a renda da família e ajudar Camily a terminar seus estudos. Trabalhando muito, sua mãe acabou por enfartar e falecer antes de seu pai. Este não demorou muito e também faleceu de derrame. Sozinha, a não ser com a ajuda dos tios e primos, Camily decidiu tentar sorte no Rio de Janeiro. Vendeu o pequeno sítio para um de seus tios e com o dinheiro veio para a Cidade Maravilhosa. Aqui, ficou um período na casa de uma família conhecida de seus tios. Tão logo conseguiu emprego numa loja de roupas como vendedora, Camily alugou uma quitinete e voltou a estudar à noite no Ensino Público. Terminou seus estudos do Ensino Médio e ingressou numa Universidade Pública para cursar Administração. Sempre trabalhando de dia e estudando à noite.
Ao terminar o curso, fez Mestrado em Engenharia de Produção na mesma Universidade. Entrou na Empresa como estagiária e cresceu rapidamente por sua competência.  Agora já era Gerente de Produção. Possuía um bom carro e uma bela casa; sem exageros, mas muito bem arrumada.
Procurando vencer na vida sozinha, Camily praticamente não teve tempo de pensar em vida sentimental. Havia experimentado alguns namoricos durante a faculdade, porém nada importante. Na verdade, os caras queriam logo transar e Camily queria namorar, conhecer. Além disso, sua formação religiosa evangélica era seguida a risca por ela. Sabia que sua religião somente permitia o sexo após o casamento. E, quando falava sobre isso com os namorados, esses desanimavam e a deixavam. Camily era romântica. Vivia sonhando com um “príncipe encantado”. Desejava se entregar a um homem que fosse digno dela, que a amasse, que a respeitasse e se dedicasse a ela como certamente se dedicaria a ele. Queria perder sua virgindade num ato de amor e não apenas de sexo. Sonhava com uma família, sem perder o foco na visão de crescer cada vez mais na Empresa. Mas agora estava perdida, sem notícias. Será que seus sonhos nunca se realizariam?
Alisson e Elizabeth tocaram a campainha do portão da casa de Camily e nada. Um dos vizinhos, após a insistência em tocarem, aproximou-se; um senhor de sessenta e cinco anos. Ele afirmou que a vizinha naquele dia não havia saído como sempre fazia todos os dias ao sair cedo, por volta das seis, dirigindo seu carro. “Aliás, nem ela e nem o carro foram vistos desde ontem pela manhã,” reafirmou o senhor, que demonstrara ser um exímio observador da vida alheia (isto para não dizer fofoqueiro). Eles agradeceram, despediram-se e ficaram preocupados, olhando um para o outro; com a pergunta no “ar”: “onde ela está?” Voltaram para o carro e começaram a conjecturar sobre o possível paradeiro da sumida. Antes de marcharem para a Delegacia mais próxima da casa de Camily, decidiram mudar um pouquinho os planos voltando para a Empresa, a fim de fazerem várias ligações para Hospitais, Uppas, Clínicas da Família, Postos de Saúde, Necrotérios etc... Assim, depois dessa varredura, iriam procurar a polícia.
Executaram tudo certinho e nada de notícias. Partiram para a Delegacia e deram parte do acontecido. Lá, na Décima Sexta Delegacia de Polícia, na Barra da Tijuca, conheceram, além do escrivão e do Delegado, o investigador Clayton, que logo se interessou pelo caso. Sem saber da fama dele de fracassado (em cada dez casos não resolvia três), Alisson e Elizabeth se entusiasmaram com o interesse do “antigo” investigador e, sentados em frente a sua mesa, narraram tudo como acontecera até aquele presente momento. É lógico que a parte do inusitado Alisson guardou para si. 
O investigador, um senhor de cinquenta e nove anos, bigode volumoso e aparência bem relaxada, com uma camisa quadriculada horrível, anotou tudo. Abriu um inquérito para investigar o sumiço de Camily. Era óbvio que o entusiasmo e o interesse de Clayton explicavam-se pelo fato daquele caso ser uma grande oportunidade para ele tentar mudar a sua fama de fracassado, de policial ineficiente. Estava decidido a dar tudo de si. Finalmente conquistar o respeito e a confiança de seus superiores e de seus colegas de profissão (deveria, para isso, começar a mudar a sua péssima aparência: pentear direito o cabelo, usar roupas passadas, e abandonar o hábito de cuspir toda hora). Então, fez algumas perguntas a Alisson e a Elizabete:
_Vocês podem me informar, principalmente você, moça, que trabalha diretamente com ela, se Camily tinha algum inimigo, alguém que visivelmente não gostava dela e que por isso poderia prejudicá-la?
Elizabete, como era de se esperar, tomou a frente de Alisson e respondeu:
_Que eu saiba não! Minha chefa é, sem dúvidas, muito respeitada e querida no trabalho, e isso por todos que se relacionam com ela. Nos cinco anos que trabalho assessorando-a, eu nunca vi uma discussão e nem abuso de poder por parte dela. No seu círculo de amigos, também todos a respeitam e convivem bem com ela, inclusive, os da igreja. De vez em quando, alguns vão até à sua casa para cantarem cânticos e fazer orações e leituras da Bíblia.
_Está bem! E você, senhor Alisson? O que tem a dizer sobre a moça?
_Não tenho muito que falar, pois não conheço Camily muito bem. Nossa relação na Empresa é estritamente profissional. Até onde eu sei, ela é extremamente competente no que faz e trata muito bem os funcionários. Dei o meu número de telefone a ela numa reunião que tivemos na Empresa. Era para que entrasse em contato comigo caso fosse necessário, tendo em vista que ela, como Gerente de Produção, dependeria da minha opinião para aprovar qualquer mudança nos produtos da Empresa, já que qualquer alteração, mínima que seja, pode afetar a imagem do produto junto à opinião pública. Esse é o meu trabalho na área de Marketing na Empresa.  Creio que sua ligação tenha a ver com isso, embora reconheça que uma ligação tão cedo seja no mínimo inusitada.
_É..., aparentemente, não há indícios de vingança ou algo assim. Não vamos descartar essa possibilidade, pois tanto no mundo dos negócios quanto na vida particular as pessoas sempre nos surpreendem. Às vezes, uma palavra mal empregada pode ficar matutando lá dentro até crescer e nos levar a fazer o mal. Já vi casos aqui nesses meus trinta anos de profissão de pessoas parecidas com a dona Camily, ou seja, acima de qualquer suspeita e que depois..., deixe-me ficar calado. Cada caso é um caso. Bem, iremos investigar na residência dela. É possível que lá encontremos alguma pista. Você tem a chave, moça?
_Sim! Sou a assessora de confiança (Alisson olhou para Elizabeth, surpreso).
_Então, Tá! Amanhã bem cedo podemos ir até lá? Isto é, se a Dona Camily não aparecer é óbvio.
_Podemos sim! Eu vou passar na Empresa e deixar as coisas em ordem e depois podemos ir.
_Eu quero ir também! – Falou Alisson.
_Não precisa! – Disse Elizabeth.
_Não, não, faço questão de acompanhar esse caso de perto. Tudo bem seu investigador?
_Tudo bem! (Aí parou para dar uma cuspidinha, que ninguém é de ferro). Só não quero que me atrapalhe fazendo perguntas que eu ainda não poderei responder!
_Ok! Somente vou acompanhar a investigação. – disse Alisson.
_Então está bem! Vamos juntos, Alisson!
_Certamente, Elizabeth. 
_Que tal irmos lá amanhã às 8 horas? – perguntou o inspetor.
_Por mim tudo bem – respondeu Alisson.
_Pra mim está cedo, pois pretendo passar na Empresa antes. Não pode ser às 9 horas? – propôs Elizabeth.
_Tá bom! E pra você seu Alisson?
_Tranquilo!
_Então até amanhã para os senhores! – Outra cuspida, desta vez passou perto de Alisson já que a cesta de lixo estava bem ao lado de seu pé esquerdo.
_Até amanhã seu investigador! – Falaram juntos e com cara de nojo tanto Alisson como Camily..
_Meu nome é Clayton.
_Até amanhã seu Clayton! – Falaram novamente juntos, agora sem o nojo.
_Até!...    
Saíram dali, daquela Delegacia, um pouco mais tranquilos, pois agora a Polícia estava a par do caso. Eles não estavam mais sós naquela angústia. Entraram no carro de Alisson e foram para a Empresa já que o veículo de Elizabeth havia ficado no estacionamento da Firma.
Na viagem, Alisson perguntou:
_Você não me disse que tinha as chaves da casa de Camily?
_É..., não achei necessário naquele momento em que fomos até a casa dela, pois apenas fomos averiguar se ela estava lá, por exemplo, acamada, doente... Na Delegacia, achei conveniente, pois quero contribuir com o esclarecimento do que aconteceu com minha amiga e, para isso, falo o que for preciso.
_Certo. Mas diga-me: ela deixou uma cópia da chave com você? 
_Não!
_Ué! Então por que você disse que tinha a chave?
_Na verdade, eu não tenho a chave, mas sei onde a cópia dela está.
_Ah!..., onde?
_Lembra que quando chegamos lá, na casa de Camily, havia uma varanda e um pequeno muro ladeando a varanda?
_Sim, acho que me lembro.
_Pois é... Naquele muro há um vaso de plantas e, dentro dele, Camily colocou uma cópia da chave; isto para não correr o risco de perder a original e ficar numa situação difícil, caso seja tarde ao chegar do trabalho e não tenha condições de fazer uma cópia. E ela me contou isto para que, caso eu precisasse apanhar algum documento em sua casa, e ela estivesse longe, eu não tivesse problemas para entrar e apanhar o que fosse necessário.
_Entendi...
Já era noite, Alisson parou perto da Empresa. Ambos despediram-se e Elizabeth dirigiu-se ao estacionamento para “pegar” o seu carro. Alisson saiu a toda para a sua casa. Queria chegar e tomar um banho, comer alguma coisa e se distrair vendo televisão; afinal, tinha sido um dia estranho, confuso e cansativo. Um dia de muitas perguntas e poucas respostas, embora reconhecesse que pelas perguntas é que as soluções são encontradas. Não produzira nada no trabalho e isto o incomodava; um dia perdido de improdutividade e o pior que a previsão era de que, no dia seguinte, seria da mesma forma. Nessas alturas dos acontecimentos, Alisson já pensava que, enquanto não resolvesse o seu dilema temporal, não conseguiria resolver a sua vida. Ele buscava respostas para o que aconteceu com ele e para o que aconteceu com Camily, por isso era tão importante que ele acompanhasse a investigação do caso do desaparecimento de sua colega de trabalho. Quem sabe amanhã não teria melhores notícias e entenderia o que estava acontecendo. Entretanto, até isto o incomodava: o que aconteceria amanhã? Seria sábado (vinte e oito de fevereiro de dois mil e nove) ou quarta-feira (dezessete de novembro de dois mil e onze)? Isso o intrigava.  

 (O amor verdadeiramente se manifesta quando a pessoa amada não está presente ou não pode fazer nada por quem a ama e mesmo assim é amada.
É interessante como nas mais diversas instituições sociais, mais precisamente no trabalho, algumas pessoas convivem, às vezes, por anos a fio, e não conseguem manter um relacionamento de amizade ou de proximidade. Uma das coisas mais importantes num local de serviço diário é o ambiente acolhedor. É óbvio que não há a necessidade que todos no espaço profissional sejam amigos de intensas intimidades. Entretanto é igualmente óbvio que relações de respeito e, se possível, de coleguismo ou mesmo de amizade entre as pessoas que compõem um determinado setor de trabalho contribuem muito para o bem-estar de todos que atuam ali. Além disso, um colega ou uma colega que atue profissionalmente ao seu lado pode ser uma grata surpresa quando as barreiras do formalismo são quebradas.)  

(O amanhã sempre será uma incógnita. Por mais que projetemos o que poderia acontecer, não podemos prever o que realmente acontecerá. O futuro se caracteriza por perguntas e dúvidas, nunca por afirmativas e certezas. E é isso que o torna um tempo fascinante. A curiosidade pelo que vai acontecer revela todo charme do futuro. O passado já é conhecido – ou pelo menos se pensa que é conhecido – e o presente está sendo conhecido, entretanto o futuro será conhecido ou não. Pode ser que ele não chegue. Mas, se chegar, virará presente e depois passado e, assim, novamente não existirá. Antes, não existia por não ter acontecido e depois por deixar de acontecer. Isto realmente intriga.)          
(Gilmar Cabral) 








                                               

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