A distinção entre passado, presente e futuro
é apenas uma ilusão teimosamente persistente.
(Albert Einstein)
Quando Alisson deu por si, já era a
hora do almoço. Perdeu a manhã toda de trabalho tentando se encontrar no tempo
e nas circunstâncias. Ele passara por um daqueles momentos que todos pelo menos
uma vez já passaram, o de parar para refletir sobre algo que têm de resolver e
não dar conta de que o tempo “correu” e ainda estão imobilizados na tentativa
de pensar que atitudes tomarão.
Retornou à Empresa e nem passou por sua sala, não tinha cabeça para nada
a não ser encontrar uma razão em toda aquela confusão que vivia. Dirigiu-se
cegamente para a sala de Camily e lá achou novamente Elizabeth telefonando para
tudo quanto era lugar onde poderia estar a amiga e chefe; e nada.
Aproximando-se dela, Alisson perguntou:
_Nenhuma notícia?
_Combinamos que eu ligaria se tivesse alguma notícia. Como eu não
liguei... – respondeu Elizabeth com certa impaciência.
_É verdade. Desculpe! Eu realmente estou ansioso por informações.
_Entendo... , seu Alisson, eu liguei para todos os lugares em que ela
poderia estar. Até para o dentista dela e nada. Acho que já é hora de comunicarmos
a alguém.
_Elizabeth, primeiramente, vamos acabar com esse tratamento formal de
“seu Alisson”. Pode me chamar somente de Alisson. Segundo, por favor, me
informe se Camily tinha parentes aqui na Cidade: pai, mãe, irmãos..., diga se
ela era casada ou noiva. Sabe de alguma coisa?
_Desculpe pelo tratamento formal, mas é que hierarquicamente eu sou
inferior ao senhor aqui na Empresa, porém, se este tratamento o incomoda, vou
chamá-lo simplesmente pelo nome. Quanto a essa informação de parentesco, até
onde eu sei: Camily mora sozinha aqui no Rio de Janeiro. Seus parentes moram no
Acre, e assim mesmo são tios e alguns primos. Seus pais faleceram já há algum
tempo. Ela veio para o Rio e venceu sozinha. É filha única.
_Que interessante! Que moça de fibra! Fale–me mais sobre ela – disse
Alisson mostrando interesse pela moça.
_Sei dessas informações e onde ela mora. Entretanto, já liguei para o seu
telefone residencial e ninguém atende. Da vida pessoal, só isto que sei. Tenho
certeza de que não é casada e parece-me que não tem namorado. Ah! Lembrei!
_ Do namorado dela?
_ Não, Alisson. Lembrei-me que ela frequenta uma igreja evangélica no
bairro onde mora, ou seja, no Recreio. Até que aparenta ser muito crente. De
vez em quando, falava para mim um pouco sobre sua religião, mas nunca foi chata
e persistente. Sempre soube respeitar a minha fé católica. Aliás, acabávamos
achando muito mais pontos em comum do que divergentes em nossas crenças.
_Sei... poderíamos ir até a casa dela? – perguntou Alisson.
_Eu já acho melhor notificarmos à Polícia seu sumiço.
_É necessário passar vinte e quatro horas para caracterizar um
desaparecimento e assim a Polícia averiguar. – falou Alisson com segurança do
que estava dizendo.
_Mas em menos tempo do que este quem sumiu pode estar passando perigo! Ou
não?! – indagou preocupada Elizabeth.
_É verdade. No entanto, é assim que funciona. Você falou com ela pela
última vez quando?
_Ontem, por volta das 13 horas, quando nos despedimos após o almoço. –
lembrou-se Elizabeth. Depois ela voltou para a Empresa e eu fui ao médico, pois
tinha uma consulta marcada com a minha ginecologista a mais de um mês, e não
podia faltar. Camily me liberou; despedimo-nos e cada uma foi para o seu
destino. Espera aí! Observei quando cheguei que as coisas aqui no Escritório
estão exatamente como deixamos. Será... que ela... não voltou para a Empresa?
_Você não tem como averiguar isso, Elizabeth?
_Sim, claro que sim! Fique aqui que eu vou perguntar à recepcionista se
Camily retornou depois do almoço para a Empresa. Meu Deus! Por que não pensei
nisto antes?
Elizabeth saiu esbaforida até à recepção; enquanto que Alisson ficou ali,
sozinho na sala de Camily. Aproveitou aqueles segundos preciosos para admirar
um pouco as coisas que estavam em cima da mesa da recém-sumida. Viu um exemplar
da Bíblia bem no canto da mesa. Observou um porta-retratos com a foto de Camily
ao lado de sua amiga e assistente; percebeu com muita atenção o fundo da
fotografia, que parecia com a imagem de um lugar montanhoso e muito bonito,
ensolarado. Rapidamente passou os olhos em Camily, mas subitamente foi atraído
a olhar para ela de novo; notou-a muito mais bonita na foto do que no dia a dia
ali na Empresa. Ela estava solta, extrovertida, alegre e não tão introvertida e
concentrada como geralmente era notada no trabalho. Essa hipnótica e envolvente
atração pela imagem de Camily foi abruptamente quebrada com a chegada repentina
de Elizabeth à sala.
_Ela não voltou! (Falou mais assustada ainda). Ninguém a viu retornar.
Nesse caso, ela pode ter sumido após ter estado comigo, depois do almoço!
_É..., se não retornou do almoço e se mais ninguém falou com ela depois
disto, tendo em vista que Camily não apareceu até agora, e como já são meio dia
e trinta, daqui a trinta minutos ela poderá ser considerada desaparecida. Vamos
fazer o seguinte: iremos comer alguma coisa, pois já estamos na hora do almoço,
e seguimos juntos para a Delegacia mais próxima, a fim de registrarmos a
ocorrência, certo? – propôs Alisson.
_Está bem! Vou pegar a minha bolsa para sairmos.
Ambos saíram. Passaram num pequeno restaurante perto da Empresa e não deu
outra: pouco se conheciam e com o assunto “Camily” fervilhando, o prato do dia,
além de ser muita verdura e legumes com alguns grelhados, foi também o
desaparecimento de Camily. Procuraram buscar alternativas para o sumiço da
jovem. Elizabeth estava desconfiada de que Camily estivesse doente e “pregada”
na cama; por isso não teria se animado para atender aos telefonemas. Contudo,
tinha que admitir que, cuidadosa como era, teria ligado para avisar a sua
falta, e se ela achasse que o seu caso fosse grave, teria ido imediatamente ao
médico para receber o devido tratamento.
Alisson acreditava em algo mais complicado, como sequestro, assalto,
etc.., na verdade, ele já sabia o que acontecera ou pelo menos acreditava que
soubesse (com base nas informações de seu sumiço inexplicável no suposto ano de
2009, agora revivido). De certa forma, tentava preparar Elizabeth para o pior.
Percebeu que a assistente de Camily gostava verdadeiramente dela como amiga.
Alisson sabia como era difícil encontrar um funcionário ou mesmo colega de
empresa que goste verdadeiramente de você e não veja a “amizade” com o chefe
apenas como uma oportunidade de conseguir benefícios no trabalho. Passou a
admirar Elizabeth por sua dedicação à Camily, mesmo esta estando ausente. Isso
comprovava a sua fidelidade e dedicação à chefa e amiga.
Decidiram, após o almoço, que antes de irem à Delegacia iriam dar uma
“passadinha” na casa de Camily somente para verificar se a hipótese, não muito
segura de Elizabeth, estava certa. Entraram no carro de Alisson e foram.
Durante a viagem, que não seria curta por causa do trânsito congestionado,
Elizabeth instruía o motorista, pois ali, somente ela sabia o caminho até a
casa da amiga. Logo voltaram a falar um pouco mais sobre Camily. Elizabeth
falava muito bem da chefa e dizia como ela era correta e profissional
competente, sem deixar de ser humana com ela e com os demais funcionários de
seu setor. Alisson, ao volante, começava a se deliciar com a descrição da
personalidade de Camily feita com precisão por sua assistente. Iniciava uma
descoberta interessante sobre uma funcionária da Empresa com a qual convivia
pouco em termos de relações, mas que lidava profissionalmente já algum tempo.
Alisson estranhamente parou de pensar na imagem descrita sobre Camily e
lembrou-se que estava com uma também jovem atraente em seu carro no banco do
carona. Elizabeth não era uma linda mulher, mais tinha seus atrativos,
principalmente, seus olhos castanhos claros, sua pele clara, com charmosas
sardas, e seu cabelo ruivo. Elizabeth fora estagiária na Empresa no tempo que
ainda cursava Economia na Universidade. Quando terminou o curso, conseguiu a
efetivação no emprego. E em um ano já estava trabalhando como assistente de
Camily no setor de engenharia de produção. Como era uma moça de temperamento
tranquilo e muito dedicada no serviço, não demorou muito para que ambas
ficassem amigas, levando o relacionamento de amizade para além do âmbito
profissional.
Alisson deu-se conta de que se
Alexia, a antiga namorada, em tempos áureos, o pegasse assim, com uma moça ruiva
e atraente em seu veículo, seria “trucidado” pela ex-namorada ciumenta. Então,
os pensamentos o turbaram mais, pois, se seus cálculos estavam corretos, ele
ainda estava de namoro com Alexia já que o término do relacionamento acontecera
em setembro de dois mil e onze. Ele estava, precisamente, em vinte e sete de
fevereiro de dois mil e nove. Constatação: estava de namoro com Alexia. Por um
momento, temeu mais este fato do que estar em outro tempo.
Elizabeth notou que falava e o motorista não mais a ouvia. Daí parou de
narrar fatos sobre a vida de Camily. Ele perguntou:
_Por que você parou de falar sobre Camily? Eu estava gostando de ouvir
coisas tão boas de uma colega de trabalho que eu não conhecia bem.
_Parei porque você não estava mais me ouvindo.
_É que eu tenho que manter a minha atenção no trânsito.
_Não, não. Tinha algo a mais que a preocupação com a direção do carro.
_Nada sem muita importância... – Alisson tentou desconversar.
_Puxa! Se não tinha importância e tirou você do circuito da minha
conversa, algo que você julgue realmente importante vai nos levar para debaixo
de um caminhão! – falou Elizabeth descontraindo a viagem.
Ambos riram e perceberam que haviam chegado. Eles desceram do carro após
Alisson estacionar ali perto e dirigiram-se até a entrada da casa. Não era
apartamento. Camily não gostava de apartamentos, condomínios, etc. Essa
preferência por casa vinha de sua família humilde lá no Acre. Lá, ela passara
sua infância e parte de sua adolescência ajudando seus pais a cuidar do pequeno
sítio da família. Não tinham muita coisa, apenas algumas galinhas e uma pequena
horta. Seu pai, após anos de trabalho na lavoura, adoecera. Sua mãe fazia doces
caseiros para vender a fim de completar a renda da família e ajudar Camily a
terminar seus estudos. Trabalhando muito, sua mãe acabou por enfartar e falecer
antes de seu pai. Este não demorou muito e também faleceu de derrame. Sozinha,
a não ser com a ajuda dos tios e primos, Camily decidiu tentar sorte no Rio de
Janeiro. Vendeu o pequeno sítio para um de seus tios e com o dinheiro veio para
a Cidade Maravilhosa. Aqui, ficou um período na casa de uma família conhecida
de seus tios. Tão logo conseguiu emprego numa loja de roupas como vendedora,
Camily alugou uma quitinete e voltou a estudar à noite no Ensino Público.
Terminou seus estudos do Ensino Médio e ingressou numa Universidade Pública
para cursar Administração. Sempre trabalhando de dia e estudando à noite.
Ao terminar o curso, fez Mestrado em Engenharia de Produção na mesma
Universidade. Entrou na Empresa como estagiária e cresceu rapidamente por sua
competência. Agora já era Gerente de
Produção. Possuía um bom carro e uma bela casa; sem exageros, mas muito bem
arrumada.
Procurando vencer na vida sozinha, Camily praticamente não teve tempo de
pensar em vida sentimental. Havia experimentado alguns namoricos durante a
faculdade, porém nada importante. Na verdade, os caras queriam logo transar e
Camily queria namorar, conhecer. Além disso, sua formação religiosa evangélica
era seguida a risca por ela. Sabia que sua religião somente permitia o sexo
após o casamento. E, quando falava sobre isso com os namorados, esses
desanimavam e a deixavam. Camily era romântica. Vivia sonhando com um “príncipe
encantado”. Desejava se entregar a um homem que fosse digno dela, que a amasse,
que a respeitasse e se dedicasse a ela como certamente se dedicaria a ele. Queria
perder sua virgindade num ato de amor e não apenas de sexo. Sonhava com uma
família, sem perder o foco na visão de crescer cada vez mais na Empresa. Mas
agora estava perdida, sem notícias. Será que seus sonhos nunca se realizariam?
Alisson e Elizabeth tocaram a campainha do portão da casa de Camily e
nada. Um dos vizinhos, após a insistência em tocarem, aproximou-se; um senhor
de sessenta e cinco anos. Ele afirmou que a vizinha naquele dia não havia saído
como sempre fazia todos os dias ao sair cedo, por volta das seis, dirigindo seu
carro. “Aliás, nem ela e nem o carro foram vistos desde ontem pela manhã,”
reafirmou o senhor, que demonstrara ser um exímio observador da vida alheia
(isto para não dizer fofoqueiro). Eles agradeceram, despediram-se e ficaram
preocupados, olhando um para o outro; com a pergunta no “ar”: “onde ela está?” Voltaram
para o carro e começaram a conjecturar sobre o possível paradeiro da sumida.
Antes de marcharem para a Delegacia mais próxima da casa de Camily, decidiram
mudar um pouquinho os planos voltando para a Empresa, a fim de fazerem várias
ligações para Hospitais, Uppas, Clínicas da Família, Postos de Saúde,
Necrotérios etc... Assim, depois dessa varredura, iriam procurar a polícia.
Executaram tudo certinho e nada de notícias. Partiram para a Delegacia e
deram parte do acontecido. Lá, na Décima Sexta Delegacia de Polícia, na Barra
da Tijuca, conheceram, além do escrivão e do Delegado, o investigador Clayton,
que logo se interessou pelo caso. Sem saber da fama dele de fracassado (em cada
dez casos não resolvia três), Alisson e Elizabeth se entusiasmaram com o interesse
do “antigo” investigador e, sentados em frente a sua mesa, narraram tudo como
acontecera até aquele presente momento. É lógico que a parte do inusitado
Alisson guardou para si.
O investigador, um senhor de cinquenta e nove anos, bigode volumoso e
aparência bem relaxada, com uma camisa quadriculada horrível, anotou tudo.
Abriu um inquérito para investigar o sumiço de Camily. Era óbvio que o
entusiasmo e o interesse de Clayton explicavam-se pelo fato daquele caso ser
uma grande oportunidade para ele tentar mudar a sua fama de fracassado, de
policial ineficiente. Estava decidido a dar tudo de si. Finalmente conquistar o
respeito e a confiança de seus superiores e de seus colegas de profissão
(deveria, para isso, começar a mudar a sua péssima aparência: pentear direito o
cabelo, usar roupas passadas, e abandonar o hábito de cuspir toda hora). Então,
fez algumas perguntas a Alisson e a Elizabete:
_Vocês podem me informar, principalmente você, moça, que trabalha
diretamente com ela, se Camily tinha algum inimigo, alguém que visivelmente não
gostava dela e que por isso poderia prejudicá-la?
Elizabete, como era de se esperar, tomou a frente de Alisson e respondeu:
_Que eu saiba não! Minha chefa é, sem dúvidas, muito respeitada e querida
no trabalho, e isso por todos que se relacionam com ela. Nos cinco anos que
trabalho assessorando-a, eu nunca vi uma discussão e nem abuso de poder por
parte dela. No seu círculo de amigos, também todos a respeitam e convivem bem
com ela, inclusive, os da igreja. De vez em quando, alguns vão até à sua casa
para cantarem cânticos e fazer orações e leituras da Bíblia.
_Está bem! E você, senhor Alisson? O que tem a dizer sobre a moça?
_Não tenho muito que falar, pois não conheço Camily muito bem. Nossa
relação na Empresa é estritamente profissional. Até onde eu sei, ela é extremamente
competente no que faz e trata muito bem os funcionários. Dei o meu número de
telefone a ela numa reunião que tivemos na Empresa. Era para que entrasse em
contato comigo caso fosse necessário, tendo em vista que ela, como Gerente de
Produção, dependeria da minha opinião para aprovar qualquer mudança nos
produtos da Empresa, já que qualquer alteração, mínima que seja, pode afetar a
imagem do produto junto à opinião pública. Esse é o meu trabalho na área de
Marketing na Empresa. Creio que sua
ligação tenha a ver com isso, embora reconheça que uma ligação tão cedo seja no
mínimo inusitada.
_É..., aparentemente, não há indícios de vingança ou algo assim. Não
vamos descartar essa possibilidade, pois tanto no mundo dos negócios quanto na
vida particular as pessoas sempre nos surpreendem. Às vezes, uma palavra mal
empregada pode ficar matutando lá dentro até crescer e nos levar a fazer o mal.
Já vi casos aqui nesses meus trinta anos de profissão de pessoas parecidas com
a dona Camily, ou seja, acima de qualquer suspeita e que depois..., deixe-me
ficar calado. Cada caso é um caso. Bem, iremos investigar na residência dela. É
possível que lá encontremos alguma pista. Você tem a chave, moça?
_Sim! Sou a assessora de confiança (Alisson olhou para Elizabeth, surpreso).
_Então, Tá! Amanhã bem cedo podemos ir até lá? Isto é, se a Dona Camily
não aparecer é óbvio.
_Podemos sim! Eu vou passar na Empresa e deixar as coisas em ordem e
depois podemos ir.
_Eu quero ir também! – Falou Alisson.
_Não precisa! – Disse Elizabeth.
_Não, não, faço questão de acompanhar esse caso de perto. Tudo bem seu
investigador?
_Tudo bem! (Aí parou para dar uma cuspidinha, que ninguém é de ferro). Só
não quero que me atrapalhe fazendo perguntas que eu ainda não poderei
responder!
_Ok! Somente vou acompanhar a investigação. – disse Alisson.
_Então está bem! Vamos juntos, Alisson!
_Certamente, Elizabeth.
_Que tal irmos lá amanhã às 8 horas? – perguntou o inspetor.
_Por mim tudo bem – respondeu Alisson.
_Pra mim está cedo, pois pretendo passar na Empresa antes. Não pode ser
às 9 horas? – propôs Elizabeth.
_Tá bom! E pra você seu Alisson?
_Tranquilo!
_Então até amanhã para os senhores! – Outra cuspida, desta vez passou
perto de Alisson já que a cesta de lixo estava bem ao lado de seu pé esquerdo.
_Até amanhã seu investigador! – Falaram juntos e com cara de nojo tanto
Alisson como Camily..
_Meu nome é Clayton.
_Até amanhã seu Clayton! – Falaram novamente juntos, agora sem o nojo.
_Até!...
Saíram dali, daquela Delegacia, um pouco mais tranquilos, pois agora a
Polícia estava a par do caso. Eles não estavam mais sós naquela angústia.
Entraram no carro de Alisson e foram para a Empresa já que o veículo de
Elizabeth havia ficado no estacionamento da Firma.
Na viagem, Alisson perguntou:
_Você não me disse que tinha as chaves da casa de Camily?
_É..., não achei necessário naquele momento em que fomos até a casa dela,
pois apenas fomos averiguar se ela estava lá, por exemplo, acamada, doente...
Na Delegacia, achei conveniente, pois quero contribuir com o esclarecimento do
que aconteceu com minha amiga e, para isso, falo o que for preciso.
_Certo. Mas diga-me: ela deixou uma cópia da chave com você?
_Não!
_Ué! Então por que você disse que tinha a chave?
_Na verdade, eu não tenho a chave, mas sei onde a cópia dela está.
_Ah!..., onde?
_Lembra que quando chegamos lá, na casa de Camily, havia uma varanda e um
pequeno muro ladeando a varanda?
_Sim, acho que me lembro.
_Pois é... Naquele muro há um vaso de plantas e, dentro dele, Camily
colocou uma cópia da chave; isto para não correr o risco de perder a original e
ficar numa situação difícil, caso seja tarde ao chegar do trabalho e não tenha
condições de fazer uma cópia. E ela me contou isto para que, caso eu precisasse
apanhar algum documento em sua casa, e ela estivesse longe, eu não tivesse
problemas para entrar e apanhar o que fosse necessário.
_Entendi...
Já era noite, Alisson parou perto da Empresa. Ambos despediram-se e
Elizabeth dirigiu-se ao estacionamento para “pegar” o seu carro. Alisson saiu a
toda para a sua casa. Queria chegar e tomar um banho, comer alguma coisa e se
distrair vendo televisão; afinal, tinha sido um dia estranho, confuso e
cansativo. Um dia de muitas perguntas e poucas respostas, embora reconhecesse
que pelas perguntas é que as soluções são encontradas. Não produzira nada no
trabalho e isto o incomodava; um dia perdido de improdutividade e o pior que a
previsão era de que, no dia seguinte, seria da mesma forma. Nessas alturas dos
acontecimentos, Alisson já pensava que, enquanto não resolvesse o seu dilema
temporal, não conseguiria resolver a sua vida. Ele buscava respostas para o que
aconteceu com ele e para o que aconteceu com Camily, por isso era tão
importante que ele acompanhasse a investigação do caso do desaparecimento de
sua colega de trabalho. Quem sabe amanhã não teria melhores notícias e
entenderia o que estava acontecendo. Entretanto, até isto o incomodava: o que
aconteceria amanhã? Seria sábado (vinte e oito de fevereiro de dois mil e nove)
ou quarta-feira (dezessete de novembro de dois mil e onze)? Isso o intrigava.
É interessante como nas mais diversas instituições sociais, mais
precisamente no trabalho, algumas pessoas convivem, às vezes, por anos a fio, e
não conseguem manter um relacionamento de amizade ou de proximidade. Uma das
coisas mais importantes num local de serviço diário é o ambiente acolhedor. É
óbvio que não há a necessidade que todos no espaço profissional sejam amigos de
intensas intimidades. Entretanto é igualmente óbvio que relações de respeito e,
se possível, de coleguismo ou mesmo de amizade entre as pessoas que compõem um
determinado setor de trabalho contribuem muito para o bem-estar de todos que
atuam ali. Além disso, um colega ou uma colega que atue profissionalmente ao
seu lado pode ser uma grata surpresa quando as barreiras do formalismo são
quebradas.)
(O amanhã sempre será uma incógnita. Por mais que projetemos o que
poderia acontecer, não podemos prever o que realmente acontecerá. O futuro se
caracteriza por perguntas e dúvidas, nunca por afirmativas e certezas. E é isso
que o torna um tempo fascinante. A curiosidade pelo que vai acontecer revela
todo charme do futuro. O passado já é conhecido – ou pelo menos se pensa que é
conhecido – e o presente está sendo conhecido, entretanto o futuro será
conhecido ou não. Pode ser que ele não chegue. Mas, se chegar, virará presente
e depois passado e, assim, novamente não existirá. Antes, não existia por não
ter acontecido e depois por deixar de acontecer. Isto realmente intriga.)
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